sábado, 12 de setembro de 2009

Esperando os Guanandis


Pois é, hoje é quinta, ao que parece foi aberta a temporada de tornados. Sopra esse vento no fundo cinza, chuvisca, o pico de calor cansou de louquear e voltou a fazer inverno. Parte de nós anda muito desabrigada. Não se tem a menor idéia do que será amanhã, mas isso tem um lado interessante! Tomo um amargo café preto recém-passado com cuecas-viradas crocantes. Um momento de paz em meio à instabilidade. Na terça-feira entrei no Mercado Livre e negociei 200 mudas de árvores. Não fomos para o sítio esperando amorosamente por elas que devem chegar a qualquer instante por Sedex, precisando de um golinho d’água. Corri lá fora e varri o quintal de tijolos molhados pela chuva, que a Grazi chegou apressada para atender no consultório, e criei para ela o palco necessário. Há sempre um cenário próprio para cada coisa, por isso nos anestesiamos tanto! Mas hoje eu não sou psicóloga! E cá estou, de volta ao meu laptop, traduzindo Seth, o cardíaco expandido, cheia de alegria, pensando em como a vida é pra lá de sem fim, deixando para trás um monte de bobagens, coisinhas, titiquinhas do cotidiano, reafirmando que adoro essas incríveis sessões de sincronicidade, que é o maior barato tudo chegar assim, às nossas mãos, ao nosso inteligente coração, pra gente desenferrujar as asas e passar a usar mais definitivamente o nosso lado interno. Emma Shapplin sopranamente canta na sala de espera do Consultório e temos esse clima grandioso de ópera se espalhando pela casa, permeando o açúcar da cueca-virada. Baixei alguns “throat singing”, “overtones” do youtube e tudo está bem no meu mundo. A ‘mama’, agora fora da UTI, recupera-se com alguma dose de sofrimento. Atualmente, em meio à agonia/euforia de um ciclo que precisa fechar, é preciso caçar sentido, cirurgicamente, com pinças! Já dizia Dóris Lessing em Shikasta, nossa história camuflada em ficção científica, que nos compenetramos tanto, planejamos vir, achamos que dessa vez íamos segurar a lucidez, mas ao entrarmos na atmosfera psíquica da Terra a coisa acaba sempre ficando preta, e nossos mais caros planos vão se nublando, a gente vai se confundindo, esquecendo de quem somos, a gente vai se atolando num visgo aderente, ilusório, que dói. A respiração alivia um pouco, vai limpando. Como lembrete, até fiz outro endereço de email para os contatos de Seth: respiramaria@hotmail.com! Então, amigo, não julgue, fique esperto, ame e, sobretudo, observe. Enquanto isso, tome outro golinho de café, pra “quentá” mais esse peito.
Uma buzina soa lá fora! Chegaram os Guanandis na caixinha, embrulhados em jornal! Vamos lá, equipe de emergência! Rápido! Mas com cuidado, carinho e presteza. Hora de ressuscitar os amigos! Balde! Água! Terra! Proteger logo as raízes nuas! Mais duzentos resistentes camaradas irão se unir a outras espécies amigas, recolonizando valentemente a antiga pastagem. Novamente engatinharemos morro acima, morro abaixo, plantando com as próprias mãos, até a hora do sol se por no horizonte. À noite, banheira quente para os músculos cansados – corpo tem dessas coisas - sopa generosa com tofu, os pés próximos ao fogão à lenha, uma taça de vinho, e Concert for George povoando nosso silêncio agradecido. A vida vai encontrando um sentido.
Beijo,
Junto,
Maria Helena, em 10/09/2009