terça-feira, 10 de agosto de 2010

A CRUZ NO CÉU

Li ainda hoje um excelente texto postado pelo astrólogo João Acuio de Curitiba, no que diz respeito à mecânica de ciclos. Aproveito para fazer alguns comentários, a guisa de complementação.

Atualmente, pelo medo de sermos confundidos com os medrosos bebês-chorões, apocaliptiqueiros de plantão, palavras de uma amiga minha, cheios de ai meu deus me salve que o mundo vai se acabar, terminamos muitas vezes por minimizar, ironizar e até banalizar as transformações ora em curso, e dizemos que é só mais um dia atrás do outro sem nada de excepcional, numa atitude de eu gosto mesmo é de enfiar meu pescoço até o talo no buraco da avestruz. O difícil mesmo é percebermos o essencial, que já se disse, é invisível aos olhos, e que faz a costura por trás dos fortes fenômenos que ora acontecem, em picos, em nosso tempo humano, devolvendo-nos para a consciência de que já somos exatamente Aquilo em que mais queremos nos transformar, embora por estas paragens estejamos sempre navegando entre o reflexo do reflexo, na sala de espelhos, em meio a projeções mentais.

Nesse mencionado texto, o astrólogo explica o que é uma lunação, usando o raciocínio para explicar como os aspectos entre planetas se formam, como crescem, amadurecem e se concluem, em meio a tantos outros ciclos em andamento. Muito bom para todos, ótimo para quem está se iniciando no entendimento do vocabulário astrô. A explicação dele está enxuta, simples e clara e ajuda-nos a compreender que a criação humana, minha, sua, nossa, individual e coletiva sofre uma evolução no tempo causando efeitos, e a alteração de sua rota, conseqüências, dá-se na medida em que, aproveitando-nos de impulsos propícios, fazemos novas escolhas, diferentes criações, upgrades para subtons mais sutis daquela mesma energia/informação, anteriormente compreendida em um nível mais baixo, por vezes em meio à pressões e agonias resultantes de nossa própria fabriqueta caseira.

Sendo este mundo a Terra de Maia, ao mesmo tempo em que tudo é ilusório, nossa própria astrologia incluída, temos optado por ilusões dolorosas, e a própria palavra transformação está sujeita às mais diversas interpretações, a grande maioria tendendo apenas a insinuações de perda e falta.

Este é o mundo da ilusão. Há vidas interpenetradas em tantos níveis, somos multidimensionais, habitamos verdadeiramente muitos universos, temos vida atuante em “locais” e contextos diversos, paralelos, prováveis, improváveis, há consciências que trabalham criando infra-estrutura para que esse show continue e não nos damos conta na prática de tudo isso, de nada, ou pouco dessas possibilidades, ficando perdidos no trânsito. Vide o excelente filme “Origem” que está sendo exibido neste momento nas salas de cinema da cidade. Assista-o várias vezes, deixe que surjam as questões. O que é o estado do sonho? Você está mesmo acordado? Estaria andando em círculos? Aproveite o labirinto e fique um pouco no vazio, abra-se para este vasto oceano de possibilidades... Precisamos de mais silêncio, meu irmão!

Estamos presos em modelos de crenças, de criação, uns contidos nos outros, sonhamos juntos sonhos por vezes aparentemente tão significativos, à princípio tão lindos, mesmo com suas doses habituais de paranóia, que apesar de um certo gosto cada vez mais ansioso, cada vez mais acre no final da colherada, não queremos , não sabemos soltar esse filme de mau gosto. Precisamos de mais silêncio diante de nós mesmos, sentados em meditação, como estamos, no alto da montanha, olhando para esse ponto central em nossa cabeça, precisamos passar para dentro do espaço acolhedor de nosso coração, nas redes penduradas em seu alpendre ajardinado, apalpando suas paredes cálidas e contemplando através de suas janelas a paisagem fantástica do Ser real de cada um. Precisamos religar as peças dentro de uma nova configuração.

Falamos em ciclos. Há, no entanto, ciclos bem maiores em que estamos envolvidos dentro de um referencial da raça humana, dentro de um referencial do projeto/experiência que fazemos nesta dimensão concreta, limitada, à portas fechadas, no escuro, algemados na caverna, observando sombras, escutando vozes entrecortadas. E nesse sentido, como não nos aventuramos em consciência pelos caminhos paralelos, pelo caminho direto, existe uma série de agendas das quais podemos estar menos atentos. Por isso a necessidade de um esvaziamento, para pararmos de oscilar entre culpa, medo e a ironia da mente intelectual que nesse arroto pretensamente tão nobre, encobre sua prisão no mesmo jogo.

Estar na Matrix, mas ainda assim em Pandora, estar diante das mudanças de ciclos como observadores dos mundos interpenetrados, do uno universo estendido, atentos ao sonho dentro de sonhos – já diziam que somos sonhos de Krishna – assumindo a direção intuída pela união da cabeça com o coração. É hora de viajar, extrair significados relevantes para nós mesmos do fundo do nosso próprio saco, abrir as velas desse novo veículo que se forma diante de nós. E por isso mesmo, por favor, amigo, não acredite na minha cruz no céu, nem na de nenhum outro astrólogo, seja seu próprio astrólogo, até porque não vai lhe adiantar nada a verdade do outro na hora que você precisar da convicção para dar o passo. Seja comandante de tua nave espacial. A internet, representante da “outra” rede, pode ser uma excelente escola. Aprenda tudo sobre o significado de plutão, de urano, de saturno, de júpiter, vênus, marte, dos signos astrológicos, sobre o que é uma conjunção, uma quadratura, uma oposição, o que é a cruz cardinal. Brinque com esses significados, com todos os significados de sua vida, deixe-os em banho-maria, marinandoovernight, deposite-os no altar de sua percepção profunda e prepare-se para o insight, enquanto você vai varrer o pátio do vento da noite passada. Mergulhe fundo e atravesse o embasamento raso da escolinha tridimensional e entre em mar aberto, no vasto presente. Deixe morrer o que conhecia, deixe apodrecer sem dó, pois nenhuma bagagem, estrutura velha e viciada precisa verdadeiramente lhe prender e não há mais como carregá-la. Fique apenas com aquilo que lhe parecer imortal, e será pouca coisa. Use conceitos intermediários até chegar aos melhores, e vá descartando tudo o que não mais serve, solte o ranço, ative o Fogo. Livre-se dos excessos. Ouse ir onde nunca tinha ido, chute o balde junto com o pau da barraca, veja a magnificência do novo se abrindo a mil pelo universo o tempo todo. Você vai ter alguns frios na barriga? Com certeza! A casinha vai cair? Com certeza! Mas nada disso doerá de verdade se você tomar gosto pela estrada! Na estrada estamos vivos, vá ver! Assuma a sua Cruz no Céu e atravesse para o outro lado! Prossiga além da vontade, entregue-se finalmente! Assim veremos nossas bravatas, nosso brio varonil infantil, como um castelo de areia, e a alegria, as ondas dos novos ciclos varrendo nossas praias, até que tenhamos uma nova cara/configuração. Você vai agradecer por este parto ao descobrir em si mesmo este, desde sempre esperado, belíssimo bebê.

Há que se assistir de novo a Origem. E silenciar no sonho. Enquanto me exercito, pego minha pinça e volto ao meu mosaico.

Maria Helena

Florianópolis, 09/08/2010

Ai vai o link para quem quiser ler o texto do João Acuio: