terça-feira, 9 de março de 2010

GRANJA HUMANA


Vindo para São Pedro de Alcântara, chuva caindo continuamente, paramos em frente a uma porteira, entrada de mais uma granja das dezenas que estão sendo construídas a toque de caixa pelo interior de Santa Catarina, para conversarmos com um pedreiro. Vitor mencionou que tinha ouvido uma notícia sobre uma tal máquina que haviam comprado aqui no Estado, para ser usada em granjas, quando ocorrem aquelas “pestes” e todas as galinhas são infectadas, e apesar da quantidade imensa de antibióticos, morrem todas – e elas são centenas, espremidas naqueles espaços mal cheirosos, cheiro que se sente estrada afora, muito antes de se avistar a granja. Disse que para diminuir a trabalheira de se eliminar, acabar de matar de vez aqueles seres agonizantes – porque a exploração violenta a que são submetidos já é uma sentença de morte – a tal máquina despeja dentro da granja uma espuma tóxica até uma altura superior a das galinhas, que no desespero de respirar, absorvem o veneno fatal, e se afogam, se asfixiam sem chance de fuga, facilitando a “limpeza” da área. Penso que, de certo, buscaram inspiração para essa “tecnologia” nas “pesquisas” de torturas feitas em campos de concentração. As próprias granjas, em si, são memórias desses lugares.
Apesar de notícias como esta serem consideradas “normais” na atualidade, e até vistas como medidas sanitárias saudáveis, não consigo ouvi-las sem experimentar uma dor profunda no peito. Se o jogo era entrar na densidade da forma e aqui nos estabelecermos, e experimentá-la tão entranhadamente a ponto de nos sentirmos identificados com essa densidade, identificados com apenas aquilo detectável através de nossos sentidos físicos, então essa é uma experiência vitoriosa, experimento que deu certo. Mas havia, no programa original, uma cláusula, uma hora combinada para se virar o jogo, re-incluir todo o resto de nossos poderes, pois apenas uma parte minúscula de nosso ser está aprisionada no visgo da matéria, mesmerizada, empobrecida, destituída, exilada de Si mesma. Há que se acender uma luz, para acharmos o caminho das pedras no escuro, vivermos neste mundo sem sermos por ele seduzidos, cooptados, convertidos a essa crassa religião às avessas. Assim, chegamos a mais um “ponto de mutação”, neste início do ciclo de Plutão em Capricórnio, agora quadrado com Saturno em Libra, vigorosa e incansavelmente rompendo a pesada crosta, o planeta em convulsão, espelhando nossa convulsão interna, matando as estruturas, armaduras que não mais nos servem, até que não sobre, nas relações dentro e fora de nós, nada equivocado. Então a Luz Imperecível rebrotará, na cena do crime! Embora ela jamais tenha arredado um pé sequer do cerne de nossa existência.
(Parei de escrever por um momento para me servir de um pouco de água da magnífica garrafa de vidro azul sobre minha mesa, garrafa que herdei do João, que quis experimentar uma vodka Skyy. A luz da janela incide sobre ela e parece que deixa a água mais gostosa. Me veio à mente uma frase do Hermann Hesse de minha adolescência: “A ave vem do Ovo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus e esse Deus se chama Abraxas.” Não sei se minha memória me trai, se o texto no original se encontra com essas exatas palavras. Abraxas é a união do Bem e o Mal.)
Ao ouvir a tal notícia sobre os métodos de eliminação de "aves descartáveis", ocorreu-me uma imagem que vou aqui transcrever. Suponha que somos uma família. Uma família amorosa. Nossos filhos queridos querem brincar de teatrinho. Como amamos nossa prole, nós resolvemos ajudá-los a criar o cenário próprio onde o roteiro da peça teatral se desenvolverá. Alguns de nós nos camuflamos em árvores, pitangas, alguns seremos animais como pássaros, cachorros, gatos, bois, porcos ou frangos. Alguns farão o papel de minerais, e se transmutarão em rios, vales e montanhas. E alguns ousarão se fantasiar de céu, de sol e estrelas, e num piscar de olhos temos por aqui um Planeta Terra, dentro de um sistema solar numa bela Via Láctea. Todos nós, essa magnífica e unida família, somos belos, inteligentes e amorosos, e fazemos nosso papel com tal mestria, intensidade e perfeição que ganhamos todos os “Oscars” para cada categoria. Então, algo macabro acontece. Nossa prole adoece, enlouquece, cria e infecta-se com um vírus paranóico muito doido e começa a torturar, destruir seus irmãos “de sangue”, agora vestidos de árvores, de montanhas e de frangos, na enorme granja da Terra. Lesada, esqueceu suas origens, sua irmandade, passou a acreditar que o cenário é feito de “coisas”, quando esse conceito em si já é uma piração, acreditar que algo possa não ter vida. Nossa amorosa família, por trás da camuflagem, faz sinais que nossa prole não vê, pois as bactérias - seriam fungos? - comeram-lhe essa faceta da visão.
Imagine que você tenha à mão uns óculos poderosos, muito, centenas de vezes melhores do que aqueles binóculos de visão noturna, desenvolvidos para a guerra. E quando você olha através dessas lentes, abre-se um maravilhoso mundo insuspeitado onde tudo respira e se move, um mundo de energias expansivas complementares que se expressam, aprendem e ensinam, lhe tocam, lhe permeiam, cujo sussurro comove cada uma de suas células e faz você sentir um amor e uma clareza tão intensos que quase dói, quando traduzimos para a linguagem deste corpo físico. Esses óculos existem, vêm incluídos no kit-incarnação. Use-os e você nunca mais vai querer usar outra coisa!
Maria Helena,
Nesta interessante manhã de terça feira, 09/03/2010, aguardando inspiração para retomar o mosaico.