2009 no finzinho e, consciente deste imenso Amor no peito, sinto que precisamos, e isto é urgente, aprender a usar metáforas, a converter e reconverter símbolos, para atingirmos o 'ponto' de onde o fluxo emana, sustentar a conexão e nos expressarmos criativamente à partir daí. Quem sabe assim, através de foco e tradução amorosa, este nosso mundo possa desaborrecer-se, soltar a distração das bobagens estereotipadas, deslinearizar-se, recuperando sua verdadeira Realidade, graça e arrojo. A metáfora e os símbolos nos ensinam a olhar uma, duas, milhares de vezes para o mesmo panorama - parábola - e a vê-lo, a cada vez, através de um novo prisma, reconhecendo suas outras faces, encontrando alimento e substância para diversas fases da Caminhada. Assim, uma coisa é uma coisa, mas também é outra coisa muito diferente daquilo que você estava imaginando.
Precisamos viajar pelo mundo, digo, entre mundos, digo, estar em paralelo nos vários mundos, atravessando portas e janelas abertas à cálida e silenciosa visão do Coração. Este transitar consciente nos possibilita trabalhar com fios de vários mundos, elementos de dimensões variadas e aprendemos a viver sem definições estreitas, sorrindo de tudo e para tudo - pois nada é o que parece - o que pode, à princípio, sugerir uma confusão dos capetas mas que na verdade revela a mais etérea leveza exalada pela liberdade de viver em contato com a Fonte, ou com TUDO QUE ELA É. E Ela, é o 'ambiente' onde fazemos nossa experiência, é 'aquilo' que dá existência e estrutura, exata e precisamente, a tudo o que vivemos dentro e fora de nós, local e globalmente, a todas as coisas e estados, todas as gentes-irmãs humanas, animais, minerais e vegetais, e é ainda a vida que transpira em todo esse povo visível e invisível que anda aparecendo nestes tempos, que não sei nem como nominar, povo multidimensional, transdisciplinar, povo louco-lúcido, Senhor, como são lúcidos! Um povo-grupo que chegou para ficar. Estamos aprendendo rápido, e tão pouco sabemos, e tudo ensina a recuperar o amoroso saber pré existente e a expandí-lo, nós que somos habitantes de tantos mundos! Tudo tão simples e tudo dentro da mais intensa realeza e integridade! Eu Sou aquele pedacinho d'Ele, aquela celulazinha ali, daquele orgãozinho ali, do Seu Corpo, mas de alguma forma, apesar de ser um mero pedaço, também isso é ilusório pois tem horas em que participo de todos, absolutamente todos os Seus sonhos e segredos! Saber ler, aquela coisa de que o pingo é letra! Saber soltar, porque sempre se tem, percebendo que a questão toda necessariamente está além da fisicalidade, embora, às vezes, a experiência passe pela consumação física, que embora possa ser movida pela fricção do fogo da paixão, pelo orgasmo, múltiplo, ainda assim, trata-se apenas de um mero detalhe na questão, múltipla, da união. Saber-se junto com o outro numa implicação vasta, num pertencimento íntimo, num conhecer profundo, numa ausência total da posse humana, num Amor que irradia, mergulha nas essências uns dos outros, enriquece uns aos outros, e transborda, Senhor, como transborda! Estar no Jogo, estar em Jogo, abraçar a vida que há em tudo, tanto e tanto, que torna-se difícil digitar, e é preciso deixar-me digitar, tocada pela energia que me envolve, que trocamos, que emana de tudo, aqui nesta mesa, diante da janela, nesta sala, também um consultório, tipo, quem consulta quem, ou o que, neste final de ano?!
Nesta vida tive três filhos, de certa forma uma coisa do passado, posto que todos já têm uma certa idade, construíram sua independência na vida de suas escolhas. No entanto, algo nesta experiência tem sempre um fluxo muito vivo, ativo, paralelo ao tempo presente, pois em uma certa instância, são e serão sempre filhos de meu corpo e de meu coração, e neste estado em que sou uma manifestação do arquétipo-mãe, estou acoplada a um terminal de abastecimento, manancial materno de fluxo contínuo, aquele cordão que jamais é cortado, aquela ligação eternamente convidada, o receber em mim o ser que vem, acolhê-lo, enraizá-lo, nutrí-lo e vê-lo crescer dentro de mim, embora diferente de mim mesma, gestá-lo de novo e de novo, para viver uma vida toda sua, mas não a minha vida escolhida.
Há, no entanto, em mim, centenas de outras vidas em que nunca fui e nunca serei mãe, em que toda a minha energia flui para centenas de outros lados – em que estou na rede e sou rede - ora como viajante, atrás do meu sonho, como a mulher reconhecendo, mergulhando e fusionando-se a seu amante, como menina inexperiente começando um novo plano, como a pessoa milenar que já viveu mais, além do que se possa recordar, explicar ou entender, cujo espírito conhece os mantras das várias linhagens do universo, está além do tempo, dos conceitos e classificações. E há aquela que precisa escalar uma certa montanha e atravessar uma certa ponte e com uma certa urgência dar um jeito em um montão de pendências que já estão velhas demais, tipo, caducas, tirar a fantasia e vestir roupas completamente novas! E em muitas dessas experiências, convivo com aqueles agora-chamados-filhos daquela 'outra' vida e, então, como bons amigos, superbrothers, companheiros, festejamos de igual para igual, camisetas e jeans desbotados, pés descalços, pernas cruzadas no chão, sobre o sofá, partilhando impressões, buscas, sonhos, utopias e videogames, expressamos nossas naturezas humana e estelar, erguemos a borbulhante taça de champanhe e compartilhamos nossa força, nossa experiência, nosso riso, abraço, amor, gratos pela camaradagem de todos os dias, aconteça o que acontecer, manos!
A vida nunca teve regras, embora nós a tenhamos revestido com camisa de força e cinturão de castidade, claro, sem a menor noção do que vem a ser castidade. Nossa cabeça tem, desconectadamente, tentado definir o melhor e o pior, como é que um ser humano decente deve agir dentro de um certo escopo de realidade, tentando ser bússola para questões em que ela, naquele nível, não tem os pré-requisitos mínimos para opinar. Mas como uma telefonista diante de seu PABX, precisamos descobrir o plugue certo, a conexão exata com o Coração. Esse é o elemento-chave, o grande decifrador de símbolos e metáforas, o transcodificador, o que mantém os universos unidos, em que todas as minhas realidades fazem sentido e nenhuma fica de fora ou invalida a outra, em que posso transitar entre as camuflagens, entre as organizações diversas da experiência e aprender com todas elas e não ser aprisionada por nenhuma. Esse Coração estabelece a direção do fluxo de energia, as reais ligações atuais, que não são fruto de acordos estéreis, mas que são resultado de uma certa sintonia vibratória.
Tocar a ‘face’ amada, olhar no olhar, respirar na respiração do encontro, e encontrar. A camisola branca de algodão simples e renda sobre o corpo nu. O sábio coração nu. A mente amorosa nua. Assim adentramos o novo dia. Seguramente, meus amigos, estar nesta vida é uma experiência pra lá de interessante!
Maria Helena,
Florianópolis, 25/12/2009
4 comentários:
Passei por aqui hoje para lhe deixar esta pérola:
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Charles Chaplin
Desaba uma incrível chuva de verão aqui no Rosa - eu de frente para a chuva e para o mar (na janela da casa do Dani); nesta outra janela, de cor azulada, na tela do meu tip top, as tuas palavras que dançam molhadas pela minha cabeça. Lembro que lá no início da tua janela azul dizia que "nada é o que parece ser". Eis minha confissão - e confusão, como diria o Paulinho da Viola, mas se referindo a grana. Fica-nos o coração. Estar no coração. Libertar-se das paranóias das extremidades desta vida tão física. Perceber a vida em mais dimensões.... continua a escrever para nós. Dankon!
Janela linda é o Rosa, e também o teu filho Dani. Saudades.
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