terça-feira, 14 de dezembro de 2010

De olhos bem abertos


Amanheceu o dia e olho, luz na face, porta afora, para o mundo refletido do meu interior, de minha pequena sala de projeção particular, dessa caixinha compacta, espaço não-local de informações, túnel intercomunicante que guarda os segredos dos universos, universo múltiplo que Sou, único Centro a ser desvelado, sintonizado. Estou na soleira da porta, no limiar, ora totalmente imersa na claridade, ora voltando para registrar aquilo que esqueço quando desligo o projetor. A Fonte é sempre cristalina. A caverna se abre para novos mundos. O espaço interno tem muitas moradas, estações onde minha pequena nave atraca, pernoita, permite-se recarregar. Somos e estamos em trânsito, e no fluxo dissolve-se a corporalidade atribuída à experiência nos recintos, entre quatro paredes, no quadrado, no beabá da existência física linearmente codificada, em meio à pressão da chamada vida dos outros, autoridade dos outros, escondirijo de Mim mesma. Impossível corporificar o cambiante Fluxo Vasto. Amanheceu, me desvencilhei e desadormeci.

Palavras são palavras, querida, mas em sua liberdade, a Realidade extrapola cada uma, mesmo quando as unimos criativamente. De certa forma, se você não conhece o estado por trás delas, tornam-se parte da armadilha. Além do convencionado há uma nota, um timbre, um certo ar de montanha, montanha muito alta, que amplia o peito e dissolve os limites entre essas coisas externas que nos vestem e separam, e nos tornamos receptivos, unidos e nus. Há esse pano de fundo conectivo comum. Por isso peregrinamos às montanhas físicas do planeta, em busca de algo que replique um pouco a lembrança desse ar, que nos desprega da cola hipnótica das emoções humanas, perdas e ganhos, dos acontecimentos seqüenciais. Há uma cadência, concatenamento, uma sincronicidade, um elo não teorizado, uma surpresa, um conhecimento, reconhecimento, integração, pertencimento, estado de amor inerente re-encontrado. Há alimento. Que, à moda de porta, pode apenas ser sugerido, através da palavra, como estímulo à intuição.

Céu interior, profundo mar alado subterrâneo e a arte de mergulhar... Estado de mergulhamento e desadaptação... Através dessas correntes de águas celestes rompemos os protocolos, a programação, a inserção do foco na posse do concreto como fonte de satisfação, caminho que quanto mais é percorrido mais nos leva para longe do êxtase. A porta segue aberta, mas para vê-la ha que se inverter o olhar. Os olhos, quando abertos, olham para dentro. Quando se começa essa inversão, vai se tornando cada vez mais irreversível a travessia. Toda imagem simbólica vai, então, abrindo portas e janelas em meio ao burburinho, em meio às ilusórias relações de causa e efeito plantadas na mente, portas para o incomensurável, para o centro da mandala. Aqui também é um outro lugar, outros lugares. Você, eu, somos o frescor da montanha, somos pessoas renováveis, ainda não descobertas, outros-algos-além-de-pessoas, muito além da definição. Sustentado este estado, libertando-nos da perturbada, complicada versão mascarada, do modelito aprisionado adotado como veículo, como seres simples, leves, alegres que somos, através do fluxo do silêncio passamos a expandir a mais cristalina e irradiante manifestação. Pouco, pouquíssimo cabe no embornal da palavra se olhos e ouvidos não estão afinados com o coração. Mas a orquestra, a sinfonia do Real segue, em pleno concerto a um passo, a uma respiração daqui.

Acordei e a porta estava aberta. Talvez tenha encontrado uma chave enquanto dormia.

Florianópolis, manhazinha fora do tempo em 14/12/2010

Maria Helena

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A CRUZ NO CÉU

Li ainda hoje um excelente texto postado pelo astrólogo João Acuio de Curitiba, no que diz respeito à mecânica de ciclos. Aproveito para fazer alguns comentários, a guisa de complementação.

Atualmente, pelo medo de sermos confundidos com os medrosos bebês-chorões, apocaliptiqueiros de plantão, palavras de uma amiga minha, cheios de ai meu deus me salve que o mundo vai se acabar, terminamos muitas vezes por minimizar, ironizar e até banalizar as transformações ora em curso, e dizemos que é só mais um dia atrás do outro sem nada de excepcional, numa atitude de eu gosto mesmo é de enfiar meu pescoço até o talo no buraco da avestruz. O difícil mesmo é percebermos o essencial, que já se disse, é invisível aos olhos, e que faz a costura por trás dos fortes fenômenos que ora acontecem, em picos, em nosso tempo humano, devolvendo-nos para a consciência de que já somos exatamente Aquilo em que mais queremos nos transformar, embora por estas paragens estejamos sempre navegando entre o reflexo do reflexo, na sala de espelhos, em meio a projeções mentais.

Nesse mencionado texto, o astrólogo explica o que é uma lunação, usando o raciocínio para explicar como os aspectos entre planetas se formam, como crescem, amadurecem e se concluem, em meio a tantos outros ciclos em andamento. Muito bom para todos, ótimo para quem está se iniciando no entendimento do vocabulário astrô. A explicação dele está enxuta, simples e clara e ajuda-nos a compreender que a criação humana, minha, sua, nossa, individual e coletiva sofre uma evolução no tempo causando efeitos, e a alteração de sua rota, conseqüências, dá-se na medida em que, aproveitando-nos de impulsos propícios, fazemos novas escolhas, diferentes criações, upgrades para subtons mais sutis daquela mesma energia/informação, anteriormente compreendida em um nível mais baixo, por vezes em meio à pressões e agonias resultantes de nossa própria fabriqueta caseira.

Sendo este mundo a Terra de Maia, ao mesmo tempo em que tudo é ilusório, nossa própria astrologia incluída, temos optado por ilusões dolorosas, e a própria palavra transformação está sujeita às mais diversas interpretações, a grande maioria tendendo apenas a insinuações de perda e falta.

Este é o mundo da ilusão. Há vidas interpenetradas em tantos níveis, somos multidimensionais, habitamos verdadeiramente muitos universos, temos vida atuante em “locais” e contextos diversos, paralelos, prováveis, improváveis, há consciências que trabalham criando infra-estrutura para que esse show continue e não nos damos conta na prática de tudo isso, de nada, ou pouco dessas possibilidades, ficando perdidos no trânsito. Vide o excelente filme “Origem” que está sendo exibido neste momento nas salas de cinema da cidade. Assista-o várias vezes, deixe que surjam as questões. O que é o estado do sonho? Você está mesmo acordado? Estaria andando em círculos? Aproveite o labirinto e fique um pouco no vazio, abra-se para este vasto oceano de possibilidades... Precisamos de mais silêncio, meu irmão!

Estamos presos em modelos de crenças, de criação, uns contidos nos outros, sonhamos juntos sonhos por vezes aparentemente tão significativos, à princípio tão lindos, mesmo com suas doses habituais de paranóia, que apesar de um certo gosto cada vez mais ansioso, cada vez mais acre no final da colherada, não queremos , não sabemos soltar esse filme de mau gosto. Precisamos de mais silêncio diante de nós mesmos, sentados em meditação, como estamos, no alto da montanha, olhando para esse ponto central em nossa cabeça, precisamos passar para dentro do espaço acolhedor de nosso coração, nas redes penduradas em seu alpendre ajardinado, apalpando suas paredes cálidas e contemplando através de suas janelas a paisagem fantástica do Ser real de cada um. Precisamos religar as peças dentro de uma nova configuração.

Falamos em ciclos. Há, no entanto, ciclos bem maiores em que estamos envolvidos dentro de um referencial da raça humana, dentro de um referencial do projeto/experiência que fazemos nesta dimensão concreta, limitada, à portas fechadas, no escuro, algemados na caverna, observando sombras, escutando vozes entrecortadas. E nesse sentido, como não nos aventuramos em consciência pelos caminhos paralelos, pelo caminho direto, existe uma série de agendas das quais podemos estar menos atentos. Por isso a necessidade de um esvaziamento, para pararmos de oscilar entre culpa, medo e a ironia da mente intelectual que nesse arroto pretensamente tão nobre, encobre sua prisão no mesmo jogo.

Estar na Matrix, mas ainda assim em Pandora, estar diante das mudanças de ciclos como observadores dos mundos interpenetrados, do uno universo estendido, atentos ao sonho dentro de sonhos – já diziam que somos sonhos de Krishna – assumindo a direção intuída pela união da cabeça com o coração. É hora de viajar, extrair significados relevantes para nós mesmos do fundo do nosso próprio saco, abrir as velas desse novo veículo que se forma diante de nós. E por isso mesmo, por favor, amigo, não acredite na minha cruz no céu, nem na de nenhum outro astrólogo, seja seu próprio astrólogo, até porque não vai lhe adiantar nada a verdade do outro na hora que você precisar da convicção para dar o passo. Seja comandante de tua nave espacial. A internet, representante da “outra” rede, pode ser uma excelente escola. Aprenda tudo sobre o significado de plutão, de urano, de saturno, de júpiter, vênus, marte, dos signos astrológicos, sobre o que é uma conjunção, uma quadratura, uma oposição, o que é a cruz cardinal. Brinque com esses significados, com todos os significados de sua vida, deixe-os em banho-maria, marinandoovernight, deposite-os no altar de sua percepção profunda e prepare-se para o insight, enquanto você vai varrer o pátio do vento da noite passada. Mergulhe fundo e atravesse o embasamento raso da escolinha tridimensional e entre em mar aberto, no vasto presente. Deixe morrer o que conhecia, deixe apodrecer sem dó, pois nenhuma bagagem, estrutura velha e viciada precisa verdadeiramente lhe prender e não há mais como carregá-la. Fique apenas com aquilo que lhe parecer imortal, e será pouca coisa. Use conceitos intermediários até chegar aos melhores, e vá descartando tudo o que não mais serve, solte o ranço, ative o Fogo. Livre-se dos excessos. Ouse ir onde nunca tinha ido, chute o balde junto com o pau da barraca, veja a magnificência do novo se abrindo a mil pelo universo o tempo todo. Você vai ter alguns frios na barriga? Com certeza! A casinha vai cair? Com certeza! Mas nada disso doerá de verdade se você tomar gosto pela estrada! Na estrada estamos vivos, vá ver! Assuma a sua Cruz no Céu e atravesse para o outro lado! Prossiga além da vontade, entregue-se finalmente! Assim veremos nossas bravatas, nosso brio varonil infantil, como um castelo de areia, e a alegria, as ondas dos novos ciclos varrendo nossas praias, até que tenhamos uma nova cara/configuração. Você vai agradecer por este parto ao descobrir em si mesmo este, desde sempre esperado, belíssimo bebê.

Há que se assistir de novo a Origem. E silenciar no sonho. Enquanto me exercito, pego minha pinça e volto ao meu mosaico.

Maria Helena

Florianópolis, 09/08/2010

Ai vai o link para quem quiser ler o texto do João Acuio:


quarta-feira, 23 de junho de 2010

INCLUSIVIDADE


Cá estou eu dedilhando este mosaico. Há uma conversa, uma parceria com o inteligente sentimento das coisas, das formas, das cores, cujos tons, quando organizados de certa maneira, criam estados de espírito, músicas. Temos também a felicidade de encontrar essas músicas inusitadas quando obedecemos ao delicado impulso da inspiração, quando ela nos visita, nos convida a sentar e a escrever, a debruçar o olhar através do limiar de separação dos mundos, nossa nau ultrapassando as últimas barreiras colonizadas desse vasto oceano subjacente, desse éter, ar, aroma, desse impalpável campo imenso de onde tudo brota, contemplando idéias, insights provenientes desse mar aparentemente impreciso, recebendo as ondas desse mundo, deixando-as trazerem, por instantes, suas límpidas águas até as areias de nossas praias. A criação se faz, então, em conjunto, material soprado em nossas velas, e nós, ouvidos surdos para o burburinho humano, navegamos perseguindo esse inefável som. É preciso colocar mais verde, aquele da pastilha de vidro chinesa, aquele tom, e repeti-lo de novo mais acima, e ainda mais uma vez.
Estamos todos e tudo indissoluvelmente ligados. As pastilhas “Málaga”, importadas da China, que ainda se obtém em pronta entrega, só pagar e pegar no depósito da loja, uma, duas placas, não de todas as cores, pois algumas delas estão esgotadas e é preciso esperar o próximo carregamento que não se sabe dizer ao certo quando virá. Mas existem várias outras, infinitas possibilidades fabricadas por aqui mesmo, as de cores mais sólidas, de pigmentos mistos, algumas iridescentes, e as madreperoladas. Olho os meus dedos cortados. A quantas mãos se faz este trabalho? As pastilhas viajadas, as fábricas, os fabricantes, os pequenos fabricadores, operários de baixo custo, custeando meu mosaico. A velha mesa de fibra da Vó Lila, a excelente torques com roldanas, o Vitor que conhece as lojas de ferramentas melhor do que eu e que me ajudou a descobrir essa torques aqui mesmo em Florianópolis, os vídeos-aulas do Youtube, o criador do Youtube, o meu laptop cor de rosa que alguém um dia concebeu e eu comprei naquela loja do Beiramar Shopping. As amplas janelas de minha sala e a luminosidade que passa por ela durante o dia, os passarinhos cantando lá fora, a chuva que tem caído, o vento que tem soprado, o frio que gela meus pés desencarnados e que eu engano esfregando um no outro diante do aquecedor, o João chegando da faculdade de cinema, seu beijo, seu observar silencioso, nossa sopa de tofu, seu videogame, nossa parceria pela madrugada enquanto contemplo a grande tapeçaria branca e preta com a face de Buda, presente cheio de presença, tudo me lembra que sou apenas essa mão de dedos cortados, mas meu corpo é feito de todas essas personalidades e suas falas, sem o que, não há mosaico. Pitucha, a gatinha da casa, sempre a meu lado, com seu olhar impressionante e suas muitas vozes, certamente compõe o clima, dá tom ao silêncio onde mergulho. A deusa do fogo sobre a lareira, fabricada em Bali, de olhos fechados em meditação, a face da serenidade, enquanto lixo algumas tesselas em meio à poeira que involuntariamente respiro, nada pode ser excluído, tudo é parte da sintonia, sinfonia da qual participo, que catalizo, de alguma forma alquimizo e exprimo.
Amanheço o dia, faço a cama, tomo o café passado pelo Vitor. Vou ao banco, ao supermercado, cozinho o arroz e o feijão, o inhame, uso o alho do sítio. Varro o quintal, recolho os galhos que o vento quebrou, observo as centenas de pitangueirinhas que tem brotado e as ameixeirinhas que insistem em atapetar os canteiros, lavo os cabelos, pinto e bordo como uma pessoa comum. Por isso entendo a gente do mundo. Quando sou psicóloga, agradeço ao que me ensinam, à parte que serve a mim e ao que vejo que serviu ao outro. Os amigos me enviam notícias, trocamos e-mails, uma rede que presta um serviço surpreendente, replicando a “outra” rede que fica logo aqui, do outro lado. Há Amor em toda a parte e não há como estar fora dele. Há inteligência e informação em tudo que vive, e tudo vive. Eu Sou Algo em meio a toda essa Vida. A arrogância, a vaidade, o orgulho humano são do tamanho de nossa ignorância humana. Não há produção alguma independente. Tudo é interdependente. Ao assinar a autoria, lembre-se de incluir a paisagem.
Maria Helena
Florianópolis, 23 de junho de 2010, véspera do aniversário do Yasha

terça-feira, 13 de abril de 2010

Onde está Maria Helena?


Dei uma olhada em meus e-mails antes de vir para São Pedro, pois fazia tempo que não passava por ali, e havia muitos na caixa de entrada, de amigos, de pessoas da lista querendo saber onde eu me encontrava, se estava bem de saúde, viajando, o que estava acontecendo, porque havia sumido daquele jeito, todos os bilhetes muito amorosos, pessoas lindas, graças a Deus! Estou ótima, em alegria, sob o Sol! Preciso dar notícias, pensei eu. Mas eram muitos os e-mails individuais e embora haja um grande amor pelas manifestações específicas de cada alminha que ali se expressa, confio que nossa ligação se mantenha por canais mais invisíveis, de consciência coletiva, e longe da ilusão da separatividade, sopro carinho através desses túneis até o coração de cada um. Havia certa urgência em fazer o supermercado, as compras da semana para casa e para o sítio. E, compras feitas, já estava com o pé na estrada!

Seguia observando as janelas dentro e fora de mim, revezando de uma para outra, para que as paisagens de ambos os lados me trouxessem sentido e conforto, levando em consideração essa árdua e prolongada estadia na terceira dimensão, ciclo que tem exigido confiança e entrega à Luz, mesmo quando nada do lado de fora indica a possibilidade dessa presença. Pelo espelho retrovisor via meu rosto, face/corpo que uso nesta experiência, olhos por trás dos simbólicos óculos de lentes cor-de-rosa, os cabelos compridos – os interessantes fios brancos muito bem mesclados aos castanhos – presos em um rabo-de-cavalo, o lenço quadriculado árabe envolvendo pescoço e peito, a antiga jaquetinha de veludo caramelo, as velhas calças jeans de boca reta, botas azuis de camurça quase até os joelhos – my blue suede shoes , a grande bolsa verde, mole, sobre o colo, creio que um conjunto, no todo, bem aquariano, bem adequado.

Escrevo em minha cadernetinha de bolsa, de folhas cor-de-creme, sem pauta, que melhor servem de pano de fundo para todo tipo de loucura, inspiração sob forma de desenho ou texto. A vida tem esse dom de ser perfeita, seja nestes trajes confortáveis, parceiros há vários invernos, roupas que a gente usa como uma luva, por gostar de não se preocupar, por gostar de respirar; seja na existência deste moleskine do tamanho exato, na caneta que desliza, seja nesta alma-falante que apesar de mim e de minhas crenças, consegue ver por si mesma a essência viva por trás da aparência das coisas, sabe onde se encontra a nossa verdadeira casa. Quando eu crescer, quero ser como ela e penso em crescer logo, como neste instante me sinto crescida, como uma criança que vive da Luz, entrando no reino dos céus.

Vitor dirige em silêncio sincronizado com o meu, enquanto escrevo, sendo assim a melhor companhia para o momento. Pela janela vejo árvores antigas, fantásticas e enquanto nos olhamos, sinto seu campo de influência-proteção e sorrio para elas em profunda gratidão. A vida pulsa em toda a parte. Não há como separar-me disso, dessa intercomunhão. Dependendo do ângulo pelo qual você olha, você pode estar dentro ou fora do templo. Hoje, estou definitivamente dentro dele. Desde cedo ouvi o anúncio, sinto a envergadura de minhas asas e, fielmente enveredando pelos corredores de acesso, respiro anseios de ressurreição.

Enfim, estamos no sítio, minha ‘Ohana, embora ‘Ohana seja um espaço dentro da gente, um espaço formado por sintonia de vibração. As hortênsias estavam afogadas em meio à grama alta e, com esse lindo fim de semana de sol podemos, finalmente, trabalhar ao redor delas, liberando-as para que se espalhem à luz, à beira da estrada. Há o que se fazer ainda por algumas tantas horas, por serem muitas, e sermos dois, os cuidadores. Vitor passou a roçadeira em torno e tirou o grosso, e eu prefiro fazer esse trabalho mais detalhado junto a elas. É tudo muito bonito e me parece um privilégio poder estar assim disponível para esta tarefa, que é, sobretudo, um trabalho interior e de parceria que me permite atravessar janelas e estar acordada no centro do peito.

Metade da semana em Florianópolis, metade em São Pedro de Alcântara. O consultório, talvez em função das buscas de nosso tempo, da premência de respirarmos em alegria como crianças em pomar cheio de frutas, talvez porque seja urgente silenciar, simplesmente soltar, voltar a face para a Realidade, permitir a transformação na orientação da Consciência, está lotado, e com isso tenho fechado as portas quase sempre por volta das 23 horas. Enquanto isso não se equilibra – e penso que logo deve se equilibrar – em vez de me conectar por tanto tempo à internet, ouvi o aviso, resolvi compensar essa polarização caprichando na introspecção, na autenticidade, deixando de lado, conscientemente, as questões repetitivas, resíduos e carências corriqueiras da personalidade em seus conflitos de ação e reação na ilusória dualidade, mosaicando, trazendo a atenção para a confecção das pequenas pecinhas, para as nuances de cores, deixando o coração mostrar onde colocar o que, treinando ser conduzida por esse feeling, pela intuição, trazendo a calma do interior do templo para o grosso da matéria, criando, talvez, uma nova harmonia, tocando a eternidade, de torquês na mão, até as três da madrugada. Algo, de dentro para fora da casinha, está sendo desconstruído, embora o resultado de tudo isso seja experimentado de forma muito diferente pelos integrantes desta experiência. Os ventos sopram, as árvores caem, a terra treme, confundindo os especialistas. Busco inspiração para os signos de fogo. Há que se esperar pelo tempo certo. Algo muito mais inteiro deve ser revelado, mas falta ainda sustentação. Algo cresce dentro do útero, e a pressa em exaltá-lo pode comprometer, romper o veículo/invólucro. Portanto, há que se cumprir esse tempo de gestação sem desviar-se muito, apesar de toda essa simultaneidade. Há que se cortar cerâmica, vidro, polir, colar, rejuntar, silenciar.

Sempre soube que algum dia seria também mosaicista. Começou 2010 e disse, deste ano não passa. Havia uma lojinha no alto da Padre Roma em que se davam aulas para curiosos, iniciantes que nem eu, mas quando fui procurá-la, já não mais existia. A mulher do pai da Grazi, a Rose, tem a casa da praia cheia de trabalhos feitos por ela, quase todos com tema floral – eu adoro flor, diz ela – e, mês de fevereiro, fomos até lá, ver se dava para aprender alguma coisa. Muita gente reunida, almoço sendo preparado, conversamos muito sobre astrologia, o mapa dela, e no final, ela me passou uma torquês e um caco de azulejo para eu cortar uma folha. Elogiou o corte dizendo que eu levava jeito, pois a peça não havia se esfarelado como era de se esperar numa primeira vez. Disse que eu usasse a cola Cascorez-extra. E antes que se conseguisse fazer mais cortes, precisávamos ir, pois Yasha tinha vôo e o trânsito da Pinheira até Floripa e até o aeroporto está sempre engarrafado nos fins de semana, principalmente no verão. Tudo indicando que deveria aprender mais por outras vias.

Então pensei: Maria Helena, você tem que encarar! Vai, mete a cara e se ancora! Respirei fundo e lá fui eu para o santo youtube, baixei tudo quanto é vídeo de gente fazendo mosaicos com seixos, vidro, pastilhas, cacos de louça caseira, sementes, pedras nobres como o mármore, as semi-preciosas e azulejos. Assisti a uns tantos, comprei todas as ferramentas indicadas, juntei louça quebrada, azulejos, pastilhas e rejunte , ganhei algum material e, depois do aniversário do Sourya, do casamento da Arlete e do Vitola no começo de março, depois da visita do Cândido, finalmente comecei. Primeiro uma tampinha de uma caixa de madeira, para ver como era colar as peças e rejuntá-las. Então parti para uma grande mesa redonda para seis pessoas, de fibra, antiga, que precisava mesmo ser reciclada, onde desenhei, como deu, uma espécie de zodíaco, doze mandalas independentes, integradas em um tema unificador, pois fechando cada uma é como se fosse iniciar um novo trabalho, ajudando-me assim a ganhar mais experiência. Vejo que ainda se pode ir além e colocar nesta mesa um céu profundo, cheio de luzes, com estrelas, naves e seres meditando em volta do centro. Gostaria de revelar portais, conexões com os outros planos e dimensões, mas, neófita, volto-me para ela, para o sentimento do tema, e deixo vir o que pode passar por este veículo, por estas ferramentas, neste momento, soltando as grandes pretensões. E é aí que estou, tendo completado o meio, as bordas e cinco signos, buscando entender- me com Leão, tentando permanecer no ponto-de-encontro e amadurecendo, vazia, mas cheia de mil idéias enquanto caminho sem muitos planos, enquanto me ocorrem imagens para o restante da peça, e depois, para muros, paredes, assoalhos, móveis, enfim! Mais uma vez a vida renasce no silêncio, enquanto ainda oscilo e respiro, ainda nesta Terra que nem sempre me parece aquela Terra que desmorona morro abaixo. Certamente, e paradoxalmente, muito está sendo construído para que se veja o que verdadeiramente vive. E como recém-nascida, vivendo o momento mais interessante de minha vida, o único, o atual, sinto a realidade do quanto somos seres criadores, do eterno fluxo de inspiração renovadora que corre através de nós, ondas desse mar infinito onde podemos surfar, passar sempre para o novo ponto, bastando estar atentos, pois que tudo que o coração pode vibrar, em alegria, a gente pode realizar!

Maria Helena

Sexta feira, 02 de abril de 2010, dia bonito de sol.

Quem tiver vontade de ver melhor como o mosaico está ficando acesse o link:

http://picasaweb.google.com.br/mhferraz/MosaicoMandalaAstrologica?fgl=true&pli=1#

terça-feira, 9 de março de 2010

GRANJA HUMANA


Vindo para São Pedro de Alcântara, chuva caindo continuamente, paramos em frente a uma porteira, entrada de mais uma granja das dezenas que estão sendo construídas a toque de caixa pelo interior de Santa Catarina, para conversarmos com um pedreiro. Vitor mencionou que tinha ouvido uma notícia sobre uma tal máquina que haviam comprado aqui no Estado, para ser usada em granjas, quando ocorrem aquelas “pestes” e todas as galinhas são infectadas, e apesar da quantidade imensa de antibióticos, morrem todas – e elas são centenas, espremidas naqueles espaços mal cheirosos, cheiro que se sente estrada afora, muito antes de se avistar a granja. Disse que para diminuir a trabalheira de se eliminar, acabar de matar de vez aqueles seres agonizantes – porque a exploração violenta a que são submetidos já é uma sentença de morte – a tal máquina despeja dentro da granja uma espuma tóxica até uma altura superior a das galinhas, que no desespero de respirar, absorvem o veneno fatal, e se afogam, se asfixiam sem chance de fuga, facilitando a “limpeza” da área. Penso que, de certo, buscaram inspiração para essa “tecnologia” nas “pesquisas” de torturas feitas em campos de concentração. As próprias granjas, em si, são memórias desses lugares.
Apesar de notícias como esta serem consideradas “normais” na atualidade, e até vistas como medidas sanitárias saudáveis, não consigo ouvi-las sem experimentar uma dor profunda no peito. Se o jogo era entrar na densidade da forma e aqui nos estabelecermos, e experimentá-la tão entranhadamente a ponto de nos sentirmos identificados com essa densidade, identificados com apenas aquilo detectável através de nossos sentidos físicos, então essa é uma experiência vitoriosa, experimento que deu certo. Mas havia, no programa original, uma cláusula, uma hora combinada para se virar o jogo, re-incluir todo o resto de nossos poderes, pois apenas uma parte minúscula de nosso ser está aprisionada no visgo da matéria, mesmerizada, empobrecida, destituída, exilada de Si mesma. Há que se acender uma luz, para acharmos o caminho das pedras no escuro, vivermos neste mundo sem sermos por ele seduzidos, cooptados, convertidos a essa crassa religião às avessas. Assim, chegamos a mais um “ponto de mutação”, neste início do ciclo de Plutão em Capricórnio, agora quadrado com Saturno em Libra, vigorosa e incansavelmente rompendo a pesada crosta, o planeta em convulsão, espelhando nossa convulsão interna, matando as estruturas, armaduras que não mais nos servem, até que não sobre, nas relações dentro e fora de nós, nada equivocado. Então a Luz Imperecível rebrotará, na cena do crime! Embora ela jamais tenha arredado um pé sequer do cerne de nossa existência.
(Parei de escrever por um momento para me servir de um pouco de água da magnífica garrafa de vidro azul sobre minha mesa, garrafa que herdei do João, que quis experimentar uma vodka Skyy. A luz da janela incide sobre ela e parece que deixa a água mais gostosa. Me veio à mente uma frase do Hermann Hesse de minha adolescência: “A ave vem do Ovo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus e esse Deus se chama Abraxas.” Não sei se minha memória me trai, se o texto no original se encontra com essas exatas palavras. Abraxas é a união do Bem e o Mal.)
Ao ouvir a tal notícia sobre os métodos de eliminação de "aves descartáveis", ocorreu-me uma imagem que vou aqui transcrever. Suponha que somos uma família. Uma família amorosa. Nossos filhos queridos querem brincar de teatrinho. Como amamos nossa prole, nós resolvemos ajudá-los a criar o cenário próprio onde o roteiro da peça teatral se desenvolverá. Alguns de nós nos camuflamos em árvores, pitangas, alguns seremos animais como pássaros, cachorros, gatos, bois, porcos ou frangos. Alguns farão o papel de minerais, e se transmutarão em rios, vales e montanhas. E alguns ousarão se fantasiar de céu, de sol e estrelas, e num piscar de olhos temos por aqui um Planeta Terra, dentro de um sistema solar numa bela Via Láctea. Todos nós, essa magnífica e unida família, somos belos, inteligentes e amorosos, e fazemos nosso papel com tal mestria, intensidade e perfeição que ganhamos todos os “Oscars” para cada categoria. Então, algo macabro acontece. Nossa prole adoece, enlouquece, cria e infecta-se com um vírus paranóico muito doido e começa a torturar, destruir seus irmãos “de sangue”, agora vestidos de árvores, de montanhas e de frangos, na enorme granja da Terra. Lesada, esqueceu suas origens, sua irmandade, passou a acreditar que o cenário é feito de “coisas”, quando esse conceito em si já é uma piração, acreditar que algo possa não ter vida. Nossa amorosa família, por trás da camuflagem, faz sinais que nossa prole não vê, pois as bactérias - seriam fungos? - comeram-lhe essa faceta da visão.
Imagine que você tenha à mão uns óculos poderosos, muito, centenas de vezes melhores do que aqueles binóculos de visão noturna, desenvolvidos para a guerra. E quando você olha através dessas lentes, abre-se um maravilhoso mundo insuspeitado onde tudo respira e se move, um mundo de energias expansivas complementares que se expressam, aprendem e ensinam, lhe tocam, lhe permeiam, cujo sussurro comove cada uma de suas células e faz você sentir um amor e uma clareza tão intensos que quase dói, quando traduzimos para a linguagem deste corpo físico. Esses óculos existem, vêm incluídos no kit-incarnação. Use-os e você nunca mais vai querer usar outra coisa!
Maria Helena,
Nesta interessante manhã de terça feira, 09/03/2010, aguardando inspiração para retomar o mosaico.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

QUÍMICA SUTIL

Aquilo que eu sou está vivo, em todas as suas infinitas subdivisões hierárquicas e como unidade, e se expande, como qualidade específica de energia consciente, ao redor e adiante de mim e chega nos outros bem antes de meu corpo físico lá chegar, intervindo em outros sistemas igualmente múltiplos e vivos. E causa, o tempo todo, um tipo particular de impacto, de conhecimento, sentimento, de impressão, de inflexão, expressão, que afeta o ambiente numa dada direção, provocando possibilidades de difração da Luz, mudanças de curso. Isso não é uma metáfora. Quando começo a imaginar, começo a abrir uma porteira, permito o acesso a um certo tipo de fluxo de matéria viva sutil carregada de possibilidades. Quando intenciono algo, canalizo, desejo, foco minha atenção em alguma direção específica, todo o meu “campo” se re-arranja, reações “químicas” ocorrem ali dentro, “moléculas” coligam-se de forma tal que a luz passa a expandir-se por novos caminhos cheios de novas informações e insights, o colorido se altera, novas regiões se acendem e pulsam, colocando em movimento uma qualidade inteiramente nova de energia que segue adiante, como batedores, interagindo, afetando tudo que há, criando em torno o novo molde, o projeto daquilo que, se o impulso segue realimentado e complementado, atrairá matéria densa que revestirá o sonho. Isto será meu presente, a nova manifestação, nova forma que estarei implantando para a etapa atual, para este novo dia de criação/experimentação no contexto desta Terra. Nesta consciência, abro este novo ano que agora se inicia. Feliz aniversário, Maria Helena!

E se imaginar é assim, um ato de tradução, criação, estou tratando, então, de imaginar grande, permitindo que meu sábio coração viaje, contate espaços elevados, plantando minha casinha no alto da montanha, de modo a poder praticar um contemplar mais amplo, expandindo meu olhar, respirando o claro ar das alturas, inalando e exalando uma consciência mais vasta, enquanto a cada dia meu corpo torna-se mais integrado, mais forte, capaz de, por horas, usar com precisão a roçadeira, a enxada, o alicate de poda, o cortador de pisos do pedreiro, a torquez, conversando com a alma das coisas. Literalmente reunindo cacos, reciclando e dando a eles nova configuração e harmonia, mosaico de sonhos. Traduzir mais que palavras, mergulhar na qualidade da consciência do ponto percebido, informação a ser transcodificada, seu ritmo, sua música, sua cor, ali, virando conscientemente meu espelho para dentro e para o céu, e transpondo as imagens que ali passam, em fluxo translúcido, para o barro da Terra.

O silêncio desta aquariana casa 12 é povoado, trespassado, interconectado à alma das “coisas”, e dentro dele, encontro-me hospedada a cada instante no coração de uma delas.

Bueno, dito isso, vamos em frente, que o dia está vivo. Aos que conhecem meu consultório, aqui na parte superior da casa, digo que a vegetação quer entrar pela bay window, os livros de astrologia misturam-se a ela com harmonia, o tibetan singing bowl, presente do Marcelo, sempre ao alcance das mãos, ajudando-me a fazer a curva de volta pro sonho, as portas de vidro da varandinha estão semi-abertas e os passarinhos cantam nas bananeiras, no limoeiro, na ameixeira. Volta e meia os cachorros se expressam com muita preguiça, neste calor. Pituxa, a gatinha, me olha de vez em quando com seus olhinhos verdes muito lindos, e a gente se comunica só no olhar. Gente do céu! Olhem em torno! Esta Terra não é mesmo O Paraíso?!

Vou esquentar a lentilha, fazer uma saladinha, que o João resolveu almoçar em casa.

Maria Helena

Manhã de 11/02/2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vozes do Pássaro da Liberdade


Postando aqui este texto escrito em fevereiro de 2007, e publicado no livro Janelas de Aquário na Casa 12. Continuo agradecendo.


Acordei aos poucos. Ouvi o silencioso farfalho das asas do Pássaro da Liberdade pousando em minha janela. (- Ah, essas asas onde gosto de fazer o meu ninho!) E fui abrindo meus olhos, atravessando a soleira da “porta”, ainda envolta, ainda mergulhada na dimensão de onde vinha.

Hoje, em particular, “acordei” com ”Ele” para agradecer por ser Quem Eu Sou. Hoje, em particular, “acordei” para o privilégio de ter recebido estes corpos para experimentação-expansão. E me abracei comigo mesma na cama e me parabenizei por ter aceitado o desafio de desbravar esses oceanos e semear esses desertos. O desafio de emparelhar a perfeição que descubro com a perfeição que já É.

Hoje, em particular, eu me sinto feliz dentro deste jogo, acordando para a Consciência do Espírito, este grande pássaro livre, experimentando permanecer em Sua freqüência, neste “esconde-esconde” onde, na verdade, nada está escondido... Desde que eu não perca este código de sintonização.

Agradeço pelo milagre desta convivência do meu euzinho com o meu euzão. E até por falta de palavras, pelo vício do uso das construções do ego, agradeço pelo Eu Maior ter tanta paciência com seu irmão pequeno que insiste no uso do possessivo “meu” e por vezes não sabe que EU SOU o outro.

Hoje, em particular, agradeço por este laptop, por esta cadernetinha de bolsa – que é um mimo da Patrícia – onde posso anotar estas idéias, tantas vezes fugidias, viagens e visões em trânsito, sonhos e decisões que lampejam sem aviso.

Hoje, reassino este contrato com o bom humor, com a espontaneidade, com a juventude e com a alegria de viver sem idade e cheia de todas elas. Hoje, na maior esportiva, abro o meu ano novo como uma aluna pequena, com a caixa de lápis-de-cor nova, começando novas vias de expressão. E declaro uma vocação-atração profunda por aprender essas disciplinas intuitivas e indisciplinadas, cuja ordenação certamente está dentro de uma Nova Ordem.

Hoje eu me sinto mais simples. Devo, pelo jeito e por vontade própria, tornar-me mais simples ainda. Até chegar naquela unidade básica. Unidade Básica.

Eu agradeço por essa Unidade que em momentos cegos, para não cair, uso como corrimão, afirmo e tomo, via de regra, como definição e em outros momentos sinto-pressinto suas saias-aura roçando pelas minhas pernas, de leve, macio. Unidade que, em dias de Graça, explode sem estardalhaço como jatos de liberdade a partir do centro do meu peito e como silêncio consciente, lago calmo no alto da montanha do meu terceiro olho, como bolhas de champanhe, fonte infinita no topo de minha cabeça... cabeça, irmão, que se desintegra daquele jeito antigo de cabeçar. Essa Unidade que, de dentro, me envolve... e atravesso a porta, a ponte entre os dois lados... e não há mais divisões... e fico de molho dentro dela, numa boa... e respiro... e sei que o mundo inteiro respira em mim.

Hoje, de novo e de novo, agradeço pelo Pássaro na bay window, e por este mundo em mim.

Maria Helena

Numa bela manhã de fevereiro de 2007


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Na Sagrada Saúde de Cada Dia





Tenho percebido nos vai-e-vens de minha própria experiência que existe mais sabedoria e simplicidade em nossos corpos, e nas maneiras como eles restabelecem e mantêm nossa saúde do que "sonha a nossa vã filosofia". No entanto, porque temos colocado o foco no medo e não conhecemos a estatura da emanação de nossa liberdade, criamos e estamos dentro de um sistema que defende apenas os métodos de cura mais artificiais, caros, extremamente manipulados em laboratórios, cujos efeitos colaterais prevêem e pedem novas intervenções também igualmente violentas. Acabo de receber notícia, através da minha amiga Ida, que está para acontecer em fevereiro o julgamento do Dr. Luiz Moura, médico que tem divulgado gratuitamente informações sobre a autohemoterapia. E fico pensando, aqui com meus botões, que a "medicina" tem sido exercida em todas as culturas, e sempre se achou remédios eficazes para os desequilíbrios causados em si mesmos pelos membros daqueles grupos. Até porque a doença é mais uma de nossas ilusões, espantalho sem graça em nosso quarto de brinquedos. Essa fé absoluta que hoje temos nos médicos, laboratórios e nos remédios "fortes", outros grupos tiveram (e alguns poucos, não contaminados, ainda o fazem) em seus pajés, seus curandeiros e sacerdotes, e essa certeza de que aqueles indivíduos traziam consigo intermediações e meios de cura, abria a mente, a emoção e o corpo à cura. A confiança tomava o lugar do medo, e então tudo podia ficar novamente Bem, furava-se a bolha, película, capa ilusória, e a Vida verdadeira pairava outra vez redescoberta. O aprendiz de feiticeiro, em nós, ao adentrar a Mata Virgem, deve encontrar-se com o Xamã que ele é.

Se pelo menos aceitássemos que vários caminhos levam à Roma... Vejam a acupuntura, por exemplo. O corpo não precisou ser aberto de forma exploratória para se descobrir onde fica o quê, mas os meridianos de energia e seu funcionamento interligado, uns retroalimentando os outros, foram de alguma forma compreendidos e o resultado do uso de agulhas, pressão de dedos, o uso do calor em certos pontos, enfim (não sou acupunturista, mas usuária de acupuntura), traz, apesar da estranheza que muitos sentem, um enorme e comprovado benefício na recomposição daquele sistema. Uma certa loucura sofreram os primeiros homeopatas, para provar que havia de fato remédio naqueles frasquinhos com suas "aguinhas". E Senhor, sem o caminho direto, ainda precisamos do ritual mágico e da irradiante energia consciente dessas aguinhas! Ah, semelhante cura semelhante, e provavelmente a autohemoterapia esteja totalmente inserida nesse contexto, não é mesmo? Os Florais estão dentro da mesma linha de simplicidade, que paira na compreensão de que toda entidade tem existência em campos de energia, cuja freqüência vibratória espelha a qualidade específica da informação contida em cada um deles. Neste caso, o equilíbrio está na busca da complementaridade. E tem a imposição das mãos, Reiki, passes, e outros... Novamente a intervenção ocorre nos campos de energia, que refletem a natureza da consciência da qual emanam. Isso é uma chave! A fitoterapia, perfeita, como perfeita é a natureza, e o relaxamento (biofeedback e outros), a massagem (diversos tipos e estilos, claramente relacionados ou não a correntes psicológicas e/ou filosóficas), e a troca através da conversa, que traz possibilidade de insights, auto-conhecimento, fortalecimento da aceitação, do Amor a si mesmo, ou transmite afeto, e segurança. A meditação, o AMOR, como cura, o estar no Coração, junto à Fonte, irradiando essa Integridade. A cura pode vir de toda a parte, através do bom humor, do sorriso, do olhar nos olhos, do olhar além dos olhos, do estar com amigos, ou no silêncio, na “Presença”. Para alguns estar bem, ou zen, acontece velejando, surfando, tomando banho de mar, cobrindo-se com areias monazíticas, barros medicinais, caminhando pela vida, correndo atrás de si mesmo, voando, planando, brincando, fazendo um som, ouvindo mantras, pink floyd, sertanejo universitário, samba, enquanto outros, como uma vizinha, curtem ouvir alto seus tenores italianos nos domingos de sol. Ou como a Raquel, que prefere o jazz do Café com Letras. Segundo ela, cura tudo! Deitar na rede é um santo remédio, assim como ficar no silêncio olhando a mata e as estrelas no escuro da noite. A saúde pode vir pelo método macrobiótico, probiótico, pelo jejum. Há ainda os que trabalham para sentirem-se centrados e para oferecerem o fruto de seu trabalho ao mundo. E nada como uma enxada, como uma roçadeira, nada como um scanner, como uma traduçãozinha para clarear o dia. Alguns afirmam que transar é preciso, e juram que o orgasmo traz tudo de bom. Outros acreditam que conter essa mesma energia e redirecioná-la para o Alto é o grande barato! Precisamos de algo que nos facilite soltar o desnecessário, para que sem essa carga extra possamos nos voltar em direção ao nosso centro de poder, reservatório central de identidade, à partir de onde podemos voltar a irradiar sanidade. Por que lutamos tanto contra tantas evidências simples que estão em toda parte? Tudo pode ser canal de cura, dependendo do indíviduo, de seu estágio de conexão, seu momento, daquilo que está disponível em seu ambiente e situação. Há nisso tudo, também, curas e Curas.

Acredito que isso, esse estado perturbado de coisas não dure muito mais tempo. Chegamos num ponto muito baixo da curva em sino, despencamos ladeira abaixo, e num círculo vicioso, quanto mais nosso campo fica retraído mais tornamo-nos medrosos em excesso, não ousamos ir além da cartilha social e por isso ainda precisamos do remédio pasteurizado e caro, quanto mais caro, mais cura, quanto mais machucar nosso estômago, nosso fígado, nossos rins, mais o remédio está "funcionando"! O prêço pago, evidentemente, vai além do dinheiro. Algo está chegando na borda, talvez já passando demais do limite. Essa agonia, fim de ciclo, nos levará à busca de simplicidade e paz. Por ora, para alguns, sofrer cura.

Lembrei-me neste instante do filme Avatar, pois um amigo acaba de assisti-lo e enviou-me emails tão lindos sobre o nosso tempo e a cura que está em curso em toda a parte e o “povo do céu” que está chegando (usando suas próprias palavras) que isso deixou-me mais inteira por hoje. Em “Pandora” - e Pandora não é lá, é "aqui" - experiencia-se a troca consciente de energia com tudo que há. Tudo é vivo, e vive-se com essa certeza e naturalidade. A Vida vegetal, com seu ponto focal na sagrada "árvore da vida", é belíssimo canal de equilíbrio. Os seres de diversas linhagens "conversam" e unem o potencial de seus campos para um propósito único. Há consciência desses campos e da substância que nos une e onde estamos. Há respeito e deferência pela Vida. Nisso reside a saúde. Mas se ainda pensamos nessa cura como fantasia para assistirmos no telão 3D nos fins de semana, essa atitude nos deixa enfraquecidos, desvalidos, e dependentes apenas de nossos planos de saúde, um jogo cada dia mais caro. Enquanto isso, em pleno 2010, o Dr. Luiz Moura é julgado pelo Conselho Federal de Medicina, a inquisição ainda hoje tentando esticar seus braços de polvo. Se o que está dentro está fora, hoje, sem demora, é hora de recomeçarmos a expandir nossa liberdade interna, esse contato com o Real, com nosso sonho de beleza e integridade, para que manifestemos externamente a maravilha que vivemos sempre que vamos para "lá". Pois "lá", é Aqui!

Maria Helena

Florianópolis, 24/01/2010