Pensamos que é objetivamente certo que estivemos lá, no mesmo tempo oficial do relógio/calendário. Mas me parece que na verdade cada um de nós viveu, vive certos ângulos da realidade, como se nossa referência-base fosse proveniente de sistemas sempre levemente diferentes uns dos outros, como se enquanto eu me encontrasse acordada você muitas vezes sonhasse, e vice-versa. Então, alternamos fases, recordamos de partes diferentes da estória. Eu me pergunto a partir de qual crença você me olha. Mas com medo de perder contato com esse chão seguro do consenso, sem um querer conscientemente ciente, nós ignoramos, fingimos não perceber as diferenças de nuances, de significados, como cada eu envereda, a todo minuto, por um mar infinito de probabilidades. Assim, viemos para cá com um acordo de concordar em certos trechos, separados por muitos hiatos, muitas vias paralelas que de tempos em tempos se unem por rótulas onde nossos veículos circulam, encontram-se, trocam de via ou seguem em frente. Assim, aquilo que eu vejo nunca é cem por cento aquilo que você percebe, mesmo quando juramos que o assunto é o mesmo, que temos a mesma filosofia de vida, mesmo quando enquadrados no mesmo espaço-tempo, mesmo quando, do ponto de vista dos sentidos, nossos corpos parecem tão completamente enlaçados... E todas as explicações que você dá para as curvas da sua trajetória me parecem tão absolutamente cativantes, coerentes, verdadeiras, lindas mesmo – você faz sentido – que eu me sentiria inteiramente feliz e agradecida, confortável e em casa, caso sua versão fosse a minha. Na insegurança dessa falta de quórum, concentro-me numa integridade que nos é comum, quando plugados no fluxo desse “mar” interior onde somos germinados, cultivados: me valho do Amor, digo “Senhor, em tuas mãos eu entrego meu espírito”, e rezo Aleluia! Penso que só o Amor de fato nos une e confere a essa loucura um tom de realidade.
Então venha, querido, sobe até esse patamar, e me dá sua alma de presente por um segundo, porque ela sabe, amado, ela sabe do Único Amor!
Escolhemos vir, viemos, cá estamos, e não há nada que tenhamos deixado para trás! Nada mesmo! Há, contudo, um desdobrar! Porque parte de nós sabe das coisas, mas parte ainda está procurando. Procuramos, chegamos lá, e de novo as coisas carecem de sentido, precisamos nos afinar em mais outro ponto, e o encontramos mais adiante: já estava lá, atrás de uma das cortinas. Como tudo o mais, atrás de uma das cortinas! E novamente é lindo, mas sempre tem mais, mais belo ainda, novinho em folha, que nós, precognitivamente, meio que sabíamos que estava lá. Não que isso fosse simplesmente predestinado, porque aí a brincadeira não teria Graça alguma! Não haveria expansão da criatividade. Nenhuma brincadeira de Eureka! Surprise! Há em nós algo que insiste em imaginar, se expandir e criar, recriar este universo em tantas outras versões, porque o Ser tem infinitas moradas. E assim nunca chegaremos totalmente “lá”, a não ser naqueles sagrados momentos de silêncio-mergulhado-na-Fonte, onde quase não se respira aqui neste mundo, mas certamente Algo respira em nós! Somos esse Deus que gosta de ser sempre novo, oceano profundo nunca antes navegado, e que se amplia mais, mais e mais. Você acha, querido, que fechou a gestalt, mas abriu outras tantas. Somos esse imenso reservatório, almoxarifado, oficina, ateliê, pleno de todas as ferramentas, materiais, matéria prima e dentro disso sensitivamente aspiramos ao encontro com Aquilo-Antigo-Inédito que nos compete revelar. Cada um de nós, em nossa pequena parte, cria em alto estilo seu grande mundo, como uma variante do mesmo tema universal. Mas não há dois caminhos iguais. Esta é a beleza que tememos. No entanto, essa solidão une. Precisamos de uma ponte: o Amor é o que transcodifica.
Mas, pare, respire, olhe nos meus olhos, querido, e fique lá. E, mágica, você se reconhecerá e você me amará, você se amará, você reconhecerá a Energia! Então me abrace forte, abasteça-se e siga. O Caminho é caminhar!
Maria Helena em 21/08/2009
2 comentários:
Oi querida, satisfação enorme ter chegado aqui.
Seu blogger está lindo e com tantas informações úteis à nossa reflexão.
Mas o bom mesmo é ler vc.
Leio-a e me sinto "sempre junto", meio indescritível a sensação, mas muito... muito boa.
Beijos
Perfeito. Mundos absolutamente particulares só podem se encontrar através do Amor-Verdade, esse pano de fundo Deus, Atman...
Como é difícil isso de estar Deus, então ficamos somente nos tangenciando..., na melhor das hipóteses. Muita Paz!!
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