domingo, 15 de novembro de 2009

Atravessando a Boca da Caverna



Postando um texto de 2007:



Oi Su, respondendo sua pergunta:

Segui o link que você me enviou e li o comentário da pessoa sobre o filme The Secret. O texto todo segue a lógica mais fácil, mais antiga, indo por um caminho que me parece muito linear, colocando, portanto, tudo num nível um tanto "primitivo", estreito. Ela, a autora do artigo, fica presa numa retórica óbvia e é incapaz de aprofundar, porque provavelmente é só até onde consegue alcançar. Não se reconhece como criadora. A mágica está presente na vida, mas não da forma limitada como ela percebe ali: a mágica de circo. A vida, minha amada, é pura Mágica, com letra maiúscula! Mas cada pessoa sempre fala a partir do ponto onde se encontra. O filme, holliwoodiano, sim, me parece útil para atingir várias camadas da população, pois estamos num atraso tão sem fim com relação ao uso de nossos potenciais, nossos sentidos internos, que não dá mais tempo para se ficar explicando tudo tim tim por tim tim, assim chegamos no resumo dos resumos. O ponto não está apenas nessa coisa grosseira de se produzir, criar matéria, um produto A ou B através da focalização do pensamento energizado pela paixão-sentimento. Ou seja, a nova modinha de auto-ajuda para se ganhar dinheiro! O ponto está na consciência de que você é um ser criador e não uma vítima, que você cria a sua realidade e não aquela velha estória de que o carma se abate sobre sua cabeça, que você foi manipulado, que você se encontrava desarmado e desamparado, que é hereditário, que a culpa é do pai, da escola, do governo ou do raio que o parta! É saber da delícia de viagem que é saltar conscientemente de um estado de criação para o outro, até que as criações se tornam inteiramente sutis, porque o desejo também foi sutilizado. O ponto é você saber que há uma saída, e que ela está logo ali.

A Lei da Atração não é nenhuma novidade, é uma idéia antiqüíssima, já que é um modo das coisas acontecerem neste planeta. Apenas, como toda revelação, ela tem uma continuidade no “tempo’, recebendo constantemente nova roupagem nos novos cenários das encarnações. Antes, ela tinha um tom mais hermético, mantinha uma camuflagem mais emaranhada em simbolismos que apenas grupos mais “seletos“ desembaralhavam. O negócio não é só ficar brincando de pensamento "positivo", como ficar hipnotizado, repetindo e repetindo uma afirmação, escrevendo e escrevendo, como numa lavagem cerebral. Mas, é preciso saber, como diz , por exemplo, Leonard Orr, que o pensador é criador em seus pensamentos. Assim como ele acredita, assim é o seu mundo, pois o seu pensamento é um filtro. Às vezes a gente repete um montão de coisas, mas não crê em nada daquilo. Há uma crença subconsciente mais forte, medos e emoções diversas associadas a episódios antigos, aprisionando o indivíduo. Às vezes a gente diz que não entende o que acontece, pois deseja algo, mas acontece exatamente o contrário. No entanto, abra aquela cabecinha e verá a seqüência incontrolável de porcarias, umas atrás das outras, como contas de um terço rezado, mantrado o dia inteiro, dia após dia, com irretocável atenção! A ‘frequência’, a vibração, a qualidade da resposta sempre é compatível com aquilo que predominou no campo! Ponto.

Estamos apenas engatinhando numa aventura de descobertas maravilhosas. Não porque tudo isso sejam idéias "novas", mas porque, de repente, descobre-se que há maneiras mais simples, há um atalho.

Paul Brunton, Trigueirinho, já falavam do caminho longo e do caminho breve. O longo é o da análise, caminho que serpenteia por muitas vidas. Assim como no mito da caverna de Platão, estamos algemados no fundo da caverna, de costas para a boca (saída) da caverna e tudo o que vemos são as sombras projetadas na parede à nossa frente. A Psicologia tem tentado interpretar essas sombras projetadas. Esse é o caminho da Análise, da Psicologia Tradicional, o caminho longo. Usando um exemplo da Sara Marriott, é como se estivéssemos deitados debaixo de uma mesinha de vidro. Sobre a mesa há um quebra-cabeças sendo montado e tudo que a gente consegue ver lá de baixo é a face marrom das peças do quebra-cabeças, pois o lado da imagem está voltado para cima. Assim, ficamos tentando encaixar peça por peça, sem ter a menor noção do desenho. Esse é o caminho da análise, o caminho longo. Mas bastava você se levantar, sair de baixo da mesa, e olhar a partir do alto para compreender melhor a figura sendo montada e fazer o seu insight! Caminho breve!

No mito da caverna, se nos virarmos para a boca da caverna, ainda estaremos algemados, porem veremos de frente a Luz, a Saída, veremos aquilo que está produzindo as sombras que antes tentávamos interpretar, tentando fazer algum sentido. O Caminho breve é girar 180 graus, e olhar de frente para a Luz, tipo, Eu Sou Luz!

Ainda brigamos com a velha crença de que Deus é aquele homem brabo e grandão sentado naquele trono das alturas, cercado por querubins e serafins, uns anjos poderosos pra cacete, mas um tanto sádicos, sempre desconfiados se a gente presta ou não presta e prontos para nos enviar para o quinto dos infernos, claro, sob a intercessão chorosa da sempre virgem Maria sobre a cruz sangrenta de seu muito amado filho! E, claro, ficamos meio que num beco sem saída, pois todos sabemos que há momentos, quando ninguém encarnado vigia, a não ser ELE, o Big Brother, em que pensamos/sentimos/agimos sobre um monte de coisas no escuro do nosso quarto-mundo, coisas que são no mínimo proibidas, estranhas, esquisitas, questionáveis, que vão contra as regras de algum fazedor de regras, portanto, 'mea culpa, mea máxima culpa, portanto peço e rogo...' e eu me sinto tão pequenininha que não tem chance de eu me imaginar à imagem e semelhança do Criador, sempre achando que sou o cocô do cavalo do bandido expulso do paraíso. E se você é mulher, pior ainda, está ferrada, querida, carma brabo, minha filha, porque você é como a danada da Eva, a serpente que deu a maçã para o "pobre" do Adão, e vai arder no mármore do inferno!

Somos incapazes de perceber Deus como a Energia Criadora do Universo, porque personalizamos e coisificamos tudo. Somos incapazes de compreender o significado de que no "princípio" só havia o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Nada mais existia a não ser Aquela Energia. Fomos criados à partir dessa ENERGIA, dessa matéria prima única, que é da mesma substância do Criador. O Criador cria mundos e com isso Ele se expande, já que Ele é a única coisa que existe. Nós somos filhos do Pai (Embora a gente viva xingando uns aos outros de filhos da mãe! Se ao menos soubéssemos o que significa a energia, o arquétipo MÃE!) e como "herdeiros" de seu DNA sagrado, devemos poder fazer as mesmas proezas e peripécias do Pai. Este é o Caminho Breve. Olhar direto para Aquilo Que Eu Sou e assumir minha hereditariedade, minha ascendência, minha genealogia, minha irmandade, minha essência, minha capacidade criadora! O Caminho Breve!

Eu te pergunto, minha amada, o que é que você escolhe? Acho muito legal, no filme, o Aladim dizendo: Seu pedido é uma ordem! Se acredita em sua fraqueza, você será fraca! Já reparou que tem horas em que a gente acredita nisso, na fraqueza, e vai lá para o fundo do fundo do poço! De repente nos conectamos com algo, talvez uma música, um cartaz, um livro, um email que traz uma imagem, que traz um sonho, que traz um sorriso, que nos lembra nossa força maravilhosa e imperecível, e aí pulamos para fora do poço viscoso e voamos para o céu, imbatíveis, pássaros feitos de luz?! A proposta é, em vez de ficarmos tão ao sabor do vento, aprendermos a velejar. Sustentar nosso campo de energia!

Ah, e quando chegar a tardinha, num dia desses de sol, na hora do sol se pôr atrás da montanha, quando a Terra começa a escurecer para dormir, olhe para ele, para o nosso belo sol, respire calma e ritmicamente. O que será que você vai ver? Verá a boca da caverna, a porta, a SAÍDA! Saberá que o sol, naquela posição pela metade, em semicírculo, aponta para a posição em que nós nos encontramos aqui no mundo, no recesso fundo da caverna, algemados e no escuro e que a saída é atravessarmos a porta do sol, rumo à LUZ, dentro de nós mesmos! Boa contemplação, amiga, mergulhe nessa Luminosidade, e muito grata pela reflexão que me proporcionou nesta manhã de hoje.

Maria Helena,
Florianópolis, 03/05/2007

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