quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CONJUNÇÃO NA CASA 8


Publicando um texto escrito em 98, credo, século passado! Aí vai:


Depois de ler a Cartografia do Desejo estive refletindo sobre aquela conjunção Saturno - Netuno que temos em Libra, na Casa 8. E me veio que, Ulisses (Saturno) e Penélope (Netuno) ali estão, vivendo lado a lado, dentro de cada um de nós.

Ulisses, que cresce disciplinando-se para a individuação, tem anseios de liberdade, mas também medo do compromisso, medo da intimidade, medo de ser conhecido, julgado e abandonado, ou medo de ser consumido, por isso abandona primeiro, ou vive distante, na indiferença, numa pseudo independência, tentando acreditar que se basta. Seu lema é estar no controle. Ulisses mora na Ilha e tem muito medo de construir uma ponte para o Continente. A verdadeira Liberdade que, de alguma forma, ele pressente, nunca se estabelece por completo nesse exílio porque ele mantêm-se eternamente tenso, numa contínua atitude de defesa contra uma Penélope que ameaça constantemente possuí-lo. Penso na mãe desse Ulisses, que certamente o devorou! Por outro lado, constato em mim mesma o trabalho do meu pai porque, em verdade vos digo, nem só a mãe é voraz!

Penélope, por sua vez, tem medo da secura, da frieza, da impessoalidade e da distância de Saturno, porque o estado de separação lhe causa intensa dor. Em função de sua natureza líquida, manifesta uma inerente necessidade de fundir-se ao outro, transpersonalizando-se, achando que só junto pode tornar-se inteira. Penélope não pode entender a existência do limite entre um e o outro, pois que é vasocomunicante, e vive da contínua consciência do Ser do outro disseminado dentro de si. Acredita que só na dissolução das fronteiras vai encontrar a Liberdade. Sendo do elemento água (Netuno), ela, mutável, amolda-se, dilui-se e penetra a terra, lenta, mas seguramente, e muitas vezes rompe a dura resistência de Saturno, dissolvendo sua velha estrutura através da fantasia e do sonho.

Penso que todo mundo é um tanto assim, mas isso, em nós, particularmente, me parece assustadoramente claro, pois nem bem damos um passo em direção ao outro, fugimos para dentro de nossos limites, suspendendo a parede de vidro temperado e, embora possa parecer que estamos por perto, não estamos mais ali, estamos na Torre de Marfim, intocáveis! Passa um tempo e, tropeçando em nossa própria aridez, rígido isolamento, a necessidade de fusão outra vez toma conta, tomamos coragem e, novamente o famoso abraço pisciano entra em cena, sedutor. Novamente a consciência do olhar, da voz, do calor e da urgência do contato que pode alongar-se indefinidamente sem esforço. E a memória hipnótica de rituais de entrega... Saturno/Ulisses fica então apavorado com a proximidade do precipício, da íntima profundidade oceânica e dissolvente, não só do outro, mas do seu próprio lado Penélope!...O medo de perder a própria e frágil identidade idealizada, construída a duras penas, de perder-se no outro e ser por ele controlado... Então, por mais que Penélope esteja sempre à beira de um mergulho, mais uma vez respiramos fundo e racionalizamos a questão. Mil desculpas... Dá para escrever um tratado, mas quando me percebo nesse revezamento absurdo, eu me canso de mim mesma. Quando te percebo nesse revezamento absurdo, eu me canso de você. Talvez até te encontrar outra vez, queira Deus, em outra volta da espiral!

A conjunção está lá, nos mapas, na bendita Casa 8, mas é preciso re-significar muita coisa pois essa mandala está impressa dentro de nós mesmos! Um mapa não é uma condenação, mas aponta para um estado de coisas que precisa ser trabalhado. Onde está Saturno, uma vez que falte inteireza, existe a consciência da estrutura, do limite e da falta. Talvez, porque algo aí atue em excesso. A conjunção pede que se estabeleça um equilíbrio entre as partes. Talvez, fale de um esforço conjunto, feito do melhor que cada lado possa oferecer. Quem sabe peça de nós uma terceira via, algo diferente disso e daquilo, algo que não polarize tanto, onde talvez se crie uma estrutura para proteger o sonho. Não se pode e nem se deve suprimir Saturno, mas certamente, meu amigo, ao ignorarmos Netuno, nós perdemos o melhor da festa!

Maria Helena, Florianópolis, 15/05/1998

Um comentário:

Unknown disse...

Maria,

Gostaria de dizer que este expressar um saturno de 8 (como tenho em meu mapa) é como ler inteiramente dentro do meu ser.
A astrologia é presente de Deus para que possamos sentir um pouco da maravilhosa viagem através do universo, do Cosmos e refletirmos sobre nossos papéis tão transitórios aqui no planeta, escolher mergulhos lindos dentro de nós mesmos, sem nos afogarmos demasiadamente na loucura e conseguirmos sair integros e felizes a cada mergulho.
Agradeço seu amor, faz-me acreditar que existe um pouco de sanidade nessa loucura toda.
Um beijo
Cristina