Oi, querido, estive no sítio desde quinta, plantando bastante. Acabei voltando ontem com uma alergia nas mãos em função do calor desproporcionalmente forte, e da personalidade impaciente, que agravada pelo trânsito de marte na seis, travava suas lutas entre seguir até o final, tim tim por tim tim, não deixando para amanhã a semeadura que deveria ter sido feita anteontem, colocando na terra todas as novas, tenras e belas mudas de árvores, ou sentar-se à beira d’água, à sombra de uma figueira antiga para refrescar os miolos parcialmente cozidos, e descobrir/sentir a beleza de pequenos remansos, oásis por certo criados por gnomos e fadas, lugarezinhos perfeitos, acontecidos aqui e ali, deixando um pouco de lado todo aquele esterco de galinha. Muito trabalho, clima inóspito e essa mania de dar conta. Cheguei a Florianópolis e encontrei as caixas de entradas totalmente lotadas, então, tem que ser aos poucos. De qualquer forma, o fato de ter voltado a chover um pouco por aquelas paragens, depois de 15 dias sem uma gota sequer e a terra literalmente rachada, fez um bem enorme à vida verde e à alma.
Agora, respondendo aos dois importantes emails que você me enviou.
Pois é, meu querido, fiquei sabendo pelo telefone que você tinha ido embora! As coisas nestes tempos andam rápidas! Você bota a atenção numa direção e, vapt vupt, aquilo cresce e eclode!
Então, este é um momento de profundos mergulhos. Quando tudo estiver mais assentado, gostaria de reler seu mapa devagar, para um detalhamento, desvelamento maior. Ou você vem aqui, ou me convida e vou aí. Bom momento, inclusive, para rever um amigo nosso que tem uma pousada bem perto de onde você pensa construir sua casa.
Por ora, mantenha-se vitalizado. De novo, como uma criança, caminhe na praia, sinta-se abençoado, observe as belas características de sua alma, tão diferentes das belas características das almas das outras pessoas, e mergulhe nisso, em ser quem você é, na sua “loucura” particular, em mostrar-se em sua beleza, com simplicidade, naturalidade e harmonia. Silencie um pouco, meu amigo! Esta pode ser uma revolução e tanto! A revolução necessária! Não que não se possa ‘voltar para Casa’ na companhia de outras pessoas, mas temos que ter o cuidado de, ao viver com o outro, não nos desviarmos de nossa meta interior, que é a única meta que conta, embora a gente insista muito em comer o mingau pelas bordas, achando que sempre está quente além da medida! Então ficamos nas meias medidas. Sempre penso nisto com relação a mim mesma! Há pessoas, contatos, que propiciam uma caminhada rumo ao Centro, já com outras, isso pode ser bem mais difícil. Há relacionamentos que nos devolvem à nossa calma interior, à simplicidade do quintal dos fundos da Casa, onde não precisamos ficar eternamente fazendo sala para o outro, podemos descer do salto, sem maquiagens, deixando espaços para esse vazio, esse deserto, esse silêncio tão necessário! Mas há relacionamentos por demais densos, tensos, que se impõem como uma parede, como algo sobre o que temos que estar sempre alerta, onde as palavras não são lidas na fonte e por isso mesmo, por seu entendimento literal, estão sempre sujeitas às más interpretações, ao conflito. Há contatos tão solicitativos, tão carentes, tão absorventes, que nos exigem um cansativo paparicar além da conta, um não descanso na presença da alma do outro, mas respiramos com esforço e luta! Eis sua tarefa, separar uns de outros! E saber o que você convida, o que você permite e porque. Ama-se a todos, mas não se traz qualquer um para dentro da casa humana. No plano da Alma, as casas não têm paredes, o universo todo namora, comemora dentro da Grande Morada! Mas enquanto separamos aqui de lá, viver juntos em harmonia é tarefa para PHDs! Um "amor", nesta terra, não deve nos afastar daquilo que somos, nem ser uma meta em si mesma, a ponto de ficarmos cegos, girando em torno da pessoa, tratando de agradá-la, ou buscando uma pseudo-segurança, ou nos embebedarmos com sua presença, ópio erótico, fazendo da relação um fac-símile de Deus. Ver a Fonte no parceiro, caminhar juntos como uma forma de vibrar sinergicamente em direção à meta única, uma tabelinha bem sincronizada para se chegar ao sutil, mano a mano, olho no olho, como uma estratégia de manter o entusiasmo de servir, de crescer, do trabalho de espelho, de harmonia, de alegria, é muito bom, com certeza! Mas ficar às voltas com coisas que não fazem mais sentido para nossa consciência, isso é, sem dúvida, complicado. A paixão é a centelha que, ao virar fogo, deve subir para os céus, e não continuar indefinidamente queimando nos pólos mais baixos!
Mudar sua vida, torná-la de fato livre e não apenas rebelde, superficialmente desapegada, uma vida melhor e, conseqüentemente, tornar o mundo um lugar mais claro, criativo e significativo para se viver, não é apenas sua responsabilidade para com você mesmo, mas uma oportunidade de fazer sua vida valer alguma coisa, uma escolha de não seguir com a boiada, um privilégio de manter a luz-guia diante dos olhos e segui-la, uma bênção mesmo, num mundo de repetidores infelizes e paralisados, um presente para si e para aqueles que, ao vê-lo, possam com satisfação saber que é possível chegar lá, pois, cara, não é que ele foi mesmo! Querido, mergulhar no grande Mar Interior, Céu de nossa Alma e de lá irradiar inequivocamente Aquela Luz, nosso trecho, nossa fala, nossa parte no roteiro deste filme, isso é assumir nossa missão!
Envio-lhe, então, todo o Amor, toda a Paz, e os melhores votos de sábia visão. Saiba que vejo você, sua alma, em plena saúde e alegria, e agradeço pelo tanto que aprendo através de sua jornada.
Meu melhor abraço,
Junto,
Maria Helena
Florianópolis, 11:34 horas de 08 de novembro de 2009
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