sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Viver no coração



2009 no finzinho e, consciente deste imenso Amor no peito, sinto que precisamos, e isto é urgente, aprender a usar metáforas, a converter e reconverter símbolos, para atingirmos o 'ponto' de onde o fluxo emana, sustentar a conexão e nos expressarmos criativamente à partir daí. Quem sabe assim, através de foco e tradução amorosa, este nosso mundo possa desaborrecer-se, soltar a distração das bobagens estereotipadas, deslinearizar-se, recuperando sua verdadeira Realidade, graça e arrojo. A metáfora e os símbolos nos ensinam a olhar uma, duas, milhares de vezes para o mesmo panorama - parábola - e a vê-lo, a cada vez, através de um novo prisma, reconhecendo suas outras faces, encontrando alimento e substância para diversas fases da Caminhada. Assim, uma coisa é uma coisa, mas também é outra coisa muito diferente daquilo que você estava imaginando.

Precisamos viajar pelo mundo, digo, entre mundos, digo, estar em paralelo nos vários mundos, atravessando portas e janelas abertas à cálida e silenciosa visão do Coração. Este transitar consciente nos possibilita trabalhar com fios de vários mundos, elementos de dimensões variadas e aprendemos a viver sem definições estreitas, sorrindo de tudo e para tudo - pois nada é o que parece - o que pode, à princípio, sugerir uma confusão dos capetas mas que na verdade revela a mais etérea leveza exalada pela liberdade de viver em contato com a Fonte, ou com TUDO QUE ELA É. E Ela, é o 'ambiente' onde fazemos nossa experiência, é 'aquilo' que dá existência e estrutura, exata e precisamente, a tudo o que vivemos dentro e fora de nós, local e globalmente, a todas as coisas e estados, todas as gentes-irmãs humanas, animais, minerais e vegetais, e é ainda a vida que transpira em todo esse povo visível e invisível que anda aparecendo nestes tempos, que não sei nem como nominar, povo multidimensional, transdisciplinar, povo louco-lúcido, Senhor, como são lúcidos! Um povo-grupo que chegou para ficar. Estamos aprendendo rápido, e tão pouco sabemos, e tudo ensina a recuperar o amoroso saber pré existente e a expandí-lo, nós que somos habitantes de tantos mundos! Tudo tão simples e tudo dentro da mais intensa realeza e integridade! Eu Sou aquele pedacinho d'Ele, aquela celulazinha ali, daquele orgãozinho ali, do Seu Corpo, mas de alguma forma, apesar de ser um mero pedaço, também isso é ilusório pois tem horas em que participo de todos, absolutamente todos os Seus sonhos e segredos! Saber ler, aquela coisa de que o pingo é letra! Saber soltar, porque sempre se tem, percebendo que a questão toda necessariamente está além da fisicalidade, embora, às vezes, a experiência passe pela consumação física, que embora possa ser movida pela fricção do fogo da paixão, pelo orgasmo, múltiplo, ainda assim, trata-se apenas de um mero detalhe na questão, múltipla, da união. Saber-se junto com o outro numa implicação vasta, num pertencimento íntimo, num conhecer profundo, numa ausência total da posse humana, num Amor que irradia, mergulha nas essências uns dos outros, enriquece uns aos outros, e transborda, Senhor, como transborda! Estar no Jogo, estar em Jogo, abraçar a vida que há em tudo, tanto e tanto, que torna-se difícil digitar, e é preciso deixar-me digitar, tocada pela energia que me envolve, que trocamos, que emana de tudo, aqui nesta mesa, diante da janela, nesta sala, também um consultório, tipo, quem consulta quem, ou o que, neste final de ano?!

Nesta vida tive três filhos, de certa forma uma coisa do passado, posto que todos já têm uma certa idade, construíram sua independência na vida de suas escolhas. No entanto, algo nesta experiência tem sempre um fluxo muito vivo, ativo, paralelo ao tempo presente, pois em uma certa instância, são e serão sempre filhos de meu corpo e de meu coração, e neste estado em que sou uma manifestação do arquétipo-mãe, estou acoplada a um terminal de abastecimento, manancial materno de fluxo contínuo, aquele cordão que jamais é cortado, aquela ligação eternamente convidada, o receber em mim o ser que vem, acolhê-lo, enraizá-lo, nutrí-lo e vê-lo crescer dentro de mim, embora diferente de mim mesma, gestá-lo de novo e de novo, para viver uma vida toda sua, mas não a minha vida escolhida.

Há, no entanto, em mim, centenas de outras vidas em que nunca fui e nunca serei mãe, em que toda a minha energia flui para centenas de outros lados – em que estou na rede e sou rede - ora como viajante, atrás do meu sonho, como a mulher reconhecendo, mergulhando e fusionando-se a seu amante, como menina inexperiente começando um novo plano, como a pessoa milenar que já viveu mais, além do que se possa recordar, explicar ou entender, cujo espírito conhece os mantras das várias linhagens do universo, está além do tempo, dos conceitos e classificações. E há aquela que precisa escalar uma certa montanha e atravessar uma certa ponte e com uma certa urgência dar um jeito em um montão de pendências que já estão velhas demais, tipo, caducas, tirar a fantasia e vestir roupas completamente novas! E em muitas dessas experiências, convivo com aqueles agora-chamados-filhos daquela 'outra' vida e, então, como bons amigos, superbrothers, companheiros, festejamos de igual para igual, camisetas e jeans desbotados, pés descalços, pernas cruzadas no chão, sobre o sofá, partilhando impressões, buscas, sonhos, utopias e videogames, expressamos nossas naturezas humana e estelar, erguemos a borbulhante taça de champanhe e compartilhamos nossa força, nossa experiência, nosso riso, abraço, amor, gratos pela camaradagem de todos os dias, aconteça o que acontecer, manos!

A vida nunca teve regras, embora nós a tenhamos revestido com camisa de força e cinturão de castidade, claro, sem a menor noção do que vem a ser castidade. Nossa cabeça tem, desconectadamente, tentado definir o melhor e o pior, como é que um ser humano decente deve agir dentro de um certo escopo de realidade, tentando ser bússola para questões em que ela, naquele nível, não tem os pré-requisitos mínimos para opinar. Mas como uma telefonista diante de seu PABX, precisamos descobrir o plugue certo, a conexão exata com o Coração. Esse é o elemento-chave, o grande decifrador de símbolos e metáforas, o transcodificador, o que mantém os universos unidos, em que todas as minhas realidades fazem sentido e nenhuma fica de fora ou invalida a outra, em que posso transitar entre as camuflagens, entre as organizações diversas da experiência e aprender com todas elas e não ser aprisionada por nenhuma. Esse Coração estabelece a direção do fluxo de energia, as reais ligações atuais, que não são fruto de acordos estéreis, mas que são resultado de uma certa sintonia vibratória.

Tocar a ‘face’ amada, olhar no olhar, respirar na respiração do encontro, e encontrar. A camisola branca de algodão simples e renda sobre o corpo nu. O sábio coração nu. A mente amorosa nua. Assim adentramos o novo dia. Seguramente, meus amigos, estar nesta vida é uma experiência pra lá de interessante!

Maria Helena,

Florianópolis, 25/12/2009

domingo, 22 de novembro de 2009

E chove


Um texto de Março de 2009:


Cá estou eu, nesta sexta-feira de Deus, aqui na minha 'Ohana, em meio a esta chuva contínua que tem estado entre nós pelos últimos quatro meses, causando acidentes memoráveis e dolorosos por todo o sul do País e que nos leva a comungar de modo mais profundo com o elemento água, trabalhando em nós profundo desapego. Tudo verde, tudo úmido, tudo escorregadio. Vestidos com macacão com botas pantaneiro, casaco impermeável com capuz, chapéu de palha de abas largas revestido com um saco plástico, de modo que os pingos caiam longe do corpo, nada nos impede de caminhar à vontade pelo lugar todo, deixando a chuva fazer parte da paisagem, verificando os canais que foram abertos ao longo do campo para que as águas sejam drenadas em direção ao lago. A terra já não absorve uma gota sequer e as águas, rápidas, rolando canais abaixo, reverberam alto como pequenas cachoeiras, ou valentes riozinhos afluentes, mergulhando no lago dos patos que está realmente cheio. Corremos para desentupir o cano que funciona como ladrão do lago que estava obstruído por folhas, restos de água-pés e galhos, pois as águas haviam invadido a ilha central, desbarrancando as laterais e quase emendando esse lago com o vizinho Laguinho Krishna. As cercas, despencadas, permitindo aos patos, marrecos e gansos pastarem por toda parte, inclusive no quintal de nossa casa. Chamei por Maria Antônia, um pouco apreensiva, pois em outra enchente ela havia sido levada pelas águas e, meio que pelo faro, intuição, amor telepático, saímos vagando, procurando por todo lado até encontrá-la rio abaixo, debaixo da ponte do Celso. Mas hoje, reconhecendo minha voz, ela veio comer ali na beirinha, enquanto eu falava pra ela coisinhas lindinhas, minha tartaruguinha querida! Maria Antônia é uma espécie de filha que adotei, uma tartaruguinha muito gente-fina, super bonita, uma Tigre d'Água Americana que cresceu no apartamento de um amigo, em Florianópolis, e que me foi confiada para que tivesse uma vida na natureza. Ela tem uma marca vermelha perto dos olhos, herança de sua raça, que chama atenção das pessoas da região. Hoje em dia, em meio a toda essa loucura do clima, mora no lago só mesmo porque quer. Às vezes ela 'foge' e vai passear no Laguinho Krishna. Depois volta. Tem uma memória estupenda e conhece muito bem os caminhos, principalmente os atalhos. Penso que se eu fosse ela, também ia querer passear no Laguinho Krishna, onde o astral é muito melhor, é cheio de sapinhos, lavadeiras, bichinhos mil, águas mais claras onde crescem lótus e água-pés que são uma bênção. Quem não ia querer dar uma escapada?


E chove! Esta temporada forçada de excesso de chuva e frio fora de época tem feito coisas, alterando expectativas. O feijão plantado, na sua maioria, amarelou, melou e morreu. Ainda não plantamos o arroz, e é capaz de não dar mais tempo, nem o milho... Muita água. Por outro lado, para eu não virar uma reclamona, tem sempre algumas maravilhas em curso, como as bananeiras fazendo cachos, os limoeiros sicilianos imensos, os abacateiros enormes, as parreiras cheias de uvinhas... As cebolas, apesar de toda a chuva, estão quase na hora de serem colhidas. Isso, para a gente nunca acreditar na limitação! Desapegamo-nos de algumas coisas e dirigimos nosso olhar à outras. Temos colocado na terra tudo quanto é semente de todas as frutas que comemos. Temos plantado até sementes de maçãs, daquelas que compramos à quilo no supermercado. Algumas delas já estão bem crescidas. E embora nos digam que jamais darão frutos, nos recusamos a acreditar nisso. Comemoramos seu crescimento, suas folhas que rebrotam sempre num tom de verde muito bonito. Vejam as sementes de limas-da-Pérsia, compradas assim, nas mesmas condições, e que coloquei dentro de um vaso de violetas, no consultório. Elas germinaram e as colocamos na terra quando ainda eram tão pequenininhas que a nossa ajudante, Janete, só ria, achando um tremendo absurdo darmos tanta atenção para aquelas plantinhas frágeis com cerca de quatro folhinhas, e que por certo morreriam antes de se adaptarem. Hoje são quatro formosas arvorezinhas que dão limas amarelinhas, deliciosas... No início, plantamos cenouras vindas dessas sementes violadas que se compra no comércio, cujas plantas não espigarão, para que sejamos obrigados a comprar novas sementes da multinacional, ficando, assim, cada vez mais à mercê dos donos da Matrix, matriz da 'tecnologia'. Pois não é que em dado momento, acreditem, um pezinho de cenoura magicamente espigou e ficamos com o coração na mão! Cheinho de flor, deu uma bacia enorme de sementes, que colhemos e replantamos. Agora temos sempre muitos pezinhos de cenoura espigados com milhares de sementes! A vida multiplicando-se em meio a esse caos aparente. Há todo um barulho do raciocínio em cima de teorias, mas no silêncio da observação surge um amor que confia na vida e que desperta a semente.


E chove!
Às vezes a chuva vem do oeste e a gente pensa que o vento vai, enfim, levá-la embora. Mas, aí, ela faz meia volta e vem de leste. Acaba a reserva de água de um lado e ela vai se abastecer no outro. Penso, então, que não dá para esperar, e se não temos mais sol, let's sing in the rain! Levanto-me para esticar as pernas e dançar um pouco: gracias a la vida que me ha dado tanto! O fogão à lenha esquentando essa mistura de sala, copa e cozinha. Almoçamos ervilhas com batatas e massinha no alho, Vitor foi fazer a siesta e estou aqui, acompanhada deste laptop cor-de-rosa, una computadora, mocinha, do sexo feminino, como diz o Paulinho, que toca esse sonzinho maneiro, onde teclo, onde estudo astrologia - como é bom - enquanto chove. E constato que a nossa ajudante, Janete, teve medo da chuva: já passou da hora e ela não veio trabalhar. Há tanto por ser feito, mas nessas circunstâncias vemos a importância de praticar a entrega, a aceitação, e como diz o povo, colocar as coisas nas mãos de Deus! Ainda hoje fomos pela trilha, caminhando mata adentro, até a beira do rio que corre lá no fundo. Há um tempo atrás havíamos assentado algumas pedras no chão, próximo da margem, de forma bem simples para não destoar, não machucar muito a energia do lugar e ainda termos um chão mais firme onde pisar. Agora, o rio encorpado, crescido, indomável, passava por cima da represinha, das margens, seguindo deu próprio curso e destino, independente de nós e de nossas pedras colocadas na margem. Um espetáculo forte, lindo! Então, é preciso reverenciar a vida, trabalhar com afinco, traçar objetivos claros mas sem qualquer apego, abertos à co-criação e à possibilidade de mudança de itinerário, saber a hora de abrir mão da agenda e pular fora. Por isso mesmo, independente do tempo, eu venho para o sítio, planto, converso com os carneiros, morro de rir dos gansinhos adolescentes, tão lindos, fico de namorinho com a Maria Antônia, que toda charmosa, mergulha e volta, e tudo está bem no meu mundo!


E chove!


São Pedro de Alcântara, 20 de março de 2009


Retorno, após uma noite de chuva intensa, para registrar a morte da minha menina Maria Antônia! A violência das águas formou um vórtice muito intenso no ladrão do lago que sugava as águas aos borbotões. Ela foi tragada pela cabeça, ficou presa e não conseguiu mais nadar para fora! Estás agora unificada à tua alma-grupo, minha querida! Em algum universo paralelo vives, agora, sem a forma de tartaruguinha que vestiste para que eu pudesse aprender que gente e tartaruga podem viver um amor sem igual! Atravessaste a linha e entraste no grande mistério! Contigo estão a Betinha, o Léo, a Lindinha, a Preta e o Ferdinando. Ferdinando, o pai de todos os carneiros desta 'Ohana, que já velhinho, fui levar-lhe um agrado em sua casinha, aquele capim cheiroso que ele tanto gostava, e uma bacia d'água, porque já não conseguia caminhar. Conversei com ele, acariciei sua cabeça, agradeci pela bênção de sua presença, pelas impagáveis aulas de olhar-no-olho-lindo-do-carneiro-e-entender-tudo, e quando saí de lá, ele deu apenas um passo cambaleante até a porta, atrás de mim. Voltei-me e ele olhou-me intensamente com seus puros olhos de carneiro e eu soube que era a despedida. Meu coração humano não queria mesmo passar por isso, mas a Alma que mora em meu coração pode sentir a paz, que como um halo, exala desses momentos. E exulta pela bela festa que vocês estão fazendo nos verdes prados do Senhor, no outro Laguinho Krishna, nessa outra 'Ohana que fica aí desse lado.


Ainda chove.


Maria Helena
São Pedro de Alcântara, 21 de março de 2009.

domingo, 15 de novembro de 2009

Atravessando a Boca da Caverna



Postando um texto de 2007:



Oi Su, respondendo sua pergunta:

Segui o link que você me enviou e li o comentário da pessoa sobre o filme The Secret. O texto todo segue a lógica mais fácil, mais antiga, indo por um caminho que me parece muito linear, colocando, portanto, tudo num nível um tanto "primitivo", estreito. Ela, a autora do artigo, fica presa numa retórica óbvia e é incapaz de aprofundar, porque provavelmente é só até onde consegue alcançar. Não se reconhece como criadora. A mágica está presente na vida, mas não da forma limitada como ela percebe ali: a mágica de circo. A vida, minha amada, é pura Mágica, com letra maiúscula! Mas cada pessoa sempre fala a partir do ponto onde se encontra. O filme, holliwoodiano, sim, me parece útil para atingir várias camadas da população, pois estamos num atraso tão sem fim com relação ao uso de nossos potenciais, nossos sentidos internos, que não dá mais tempo para se ficar explicando tudo tim tim por tim tim, assim chegamos no resumo dos resumos. O ponto não está apenas nessa coisa grosseira de se produzir, criar matéria, um produto A ou B através da focalização do pensamento energizado pela paixão-sentimento. Ou seja, a nova modinha de auto-ajuda para se ganhar dinheiro! O ponto está na consciência de que você é um ser criador e não uma vítima, que você cria a sua realidade e não aquela velha estória de que o carma se abate sobre sua cabeça, que você foi manipulado, que você se encontrava desarmado e desamparado, que é hereditário, que a culpa é do pai, da escola, do governo ou do raio que o parta! É saber da delícia de viagem que é saltar conscientemente de um estado de criação para o outro, até que as criações se tornam inteiramente sutis, porque o desejo também foi sutilizado. O ponto é você saber que há uma saída, e que ela está logo ali.

A Lei da Atração não é nenhuma novidade, é uma idéia antiqüíssima, já que é um modo das coisas acontecerem neste planeta. Apenas, como toda revelação, ela tem uma continuidade no “tempo’, recebendo constantemente nova roupagem nos novos cenários das encarnações. Antes, ela tinha um tom mais hermético, mantinha uma camuflagem mais emaranhada em simbolismos que apenas grupos mais “seletos“ desembaralhavam. O negócio não é só ficar brincando de pensamento "positivo", como ficar hipnotizado, repetindo e repetindo uma afirmação, escrevendo e escrevendo, como numa lavagem cerebral. Mas, é preciso saber, como diz , por exemplo, Leonard Orr, que o pensador é criador em seus pensamentos. Assim como ele acredita, assim é o seu mundo, pois o seu pensamento é um filtro. Às vezes a gente repete um montão de coisas, mas não crê em nada daquilo. Há uma crença subconsciente mais forte, medos e emoções diversas associadas a episódios antigos, aprisionando o indivíduo. Às vezes a gente diz que não entende o que acontece, pois deseja algo, mas acontece exatamente o contrário. No entanto, abra aquela cabecinha e verá a seqüência incontrolável de porcarias, umas atrás das outras, como contas de um terço rezado, mantrado o dia inteiro, dia após dia, com irretocável atenção! A ‘frequência’, a vibração, a qualidade da resposta sempre é compatível com aquilo que predominou no campo! Ponto.

Estamos apenas engatinhando numa aventura de descobertas maravilhosas. Não porque tudo isso sejam idéias "novas", mas porque, de repente, descobre-se que há maneiras mais simples, há um atalho.

Paul Brunton, Trigueirinho, já falavam do caminho longo e do caminho breve. O longo é o da análise, caminho que serpenteia por muitas vidas. Assim como no mito da caverna de Platão, estamos algemados no fundo da caverna, de costas para a boca (saída) da caverna e tudo o que vemos são as sombras projetadas na parede à nossa frente. A Psicologia tem tentado interpretar essas sombras projetadas. Esse é o caminho da Análise, da Psicologia Tradicional, o caminho longo. Usando um exemplo da Sara Marriott, é como se estivéssemos deitados debaixo de uma mesinha de vidro. Sobre a mesa há um quebra-cabeças sendo montado e tudo que a gente consegue ver lá de baixo é a face marrom das peças do quebra-cabeças, pois o lado da imagem está voltado para cima. Assim, ficamos tentando encaixar peça por peça, sem ter a menor noção do desenho. Esse é o caminho da análise, o caminho longo. Mas bastava você se levantar, sair de baixo da mesa, e olhar a partir do alto para compreender melhor a figura sendo montada e fazer o seu insight! Caminho breve!

No mito da caverna, se nos virarmos para a boca da caverna, ainda estaremos algemados, porem veremos de frente a Luz, a Saída, veremos aquilo que está produzindo as sombras que antes tentávamos interpretar, tentando fazer algum sentido. O Caminho breve é girar 180 graus, e olhar de frente para a Luz, tipo, Eu Sou Luz!

Ainda brigamos com a velha crença de que Deus é aquele homem brabo e grandão sentado naquele trono das alturas, cercado por querubins e serafins, uns anjos poderosos pra cacete, mas um tanto sádicos, sempre desconfiados se a gente presta ou não presta e prontos para nos enviar para o quinto dos infernos, claro, sob a intercessão chorosa da sempre virgem Maria sobre a cruz sangrenta de seu muito amado filho! E, claro, ficamos meio que num beco sem saída, pois todos sabemos que há momentos, quando ninguém encarnado vigia, a não ser ELE, o Big Brother, em que pensamos/sentimos/agimos sobre um monte de coisas no escuro do nosso quarto-mundo, coisas que são no mínimo proibidas, estranhas, esquisitas, questionáveis, que vão contra as regras de algum fazedor de regras, portanto, 'mea culpa, mea máxima culpa, portanto peço e rogo...' e eu me sinto tão pequenininha que não tem chance de eu me imaginar à imagem e semelhança do Criador, sempre achando que sou o cocô do cavalo do bandido expulso do paraíso. E se você é mulher, pior ainda, está ferrada, querida, carma brabo, minha filha, porque você é como a danada da Eva, a serpente que deu a maçã para o "pobre" do Adão, e vai arder no mármore do inferno!

Somos incapazes de perceber Deus como a Energia Criadora do Universo, porque personalizamos e coisificamos tudo. Somos incapazes de compreender o significado de que no "princípio" só havia o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Nada mais existia a não ser Aquela Energia. Fomos criados à partir dessa ENERGIA, dessa matéria prima única, que é da mesma substância do Criador. O Criador cria mundos e com isso Ele se expande, já que Ele é a única coisa que existe. Nós somos filhos do Pai (Embora a gente viva xingando uns aos outros de filhos da mãe! Se ao menos soubéssemos o que significa a energia, o arquétipo MÃE!) e como "herdeiros" de seu DNA sagrado, devemos poder fazer as mesmas proezas e peripécias do Pai. Este é o Caminho Breve. Olhar direto para Aquilo Que Eu Sou e assumir minha hereditariedade, minha ascendência, minha genealogia, minha irmandade, minha essência, minha capacidade criadora! O Caminho Breve!

Eu te pergunto, minha amada, o que é que você escolhe? Acho muito legal, no filme, o Aladim dizendo: Seu pedido é uma ordem! Se acredita em sua fraqueza, você será fraca! Já reparou que tem horas em que a gente acredita nisso, na fraqueza, e vai lá para o fundo do fundo do poço! De repente nos conectamos com algo, talvez uma música, um cartaz, um livro, um email que traz uma imagem, que traz um sonho, que traz um sorriso, que nos lembra nossa força maravilhosa e imperecível, e aí pulamos para fora do poço viscoso e voamos para o céu, imbatíveis, pássaros feitos de luz?! A proposta é, em vez de ficarmos tão ao sabor do vento, aprendermos a velejar. Sustentar nosso campo de energia!

Ah, e quando chegar a tardinha, num dia desses de sol, na hora do sol se pôr atrás da montanha, quando a Terra começa a escurecer para dormir, olhe para ele, para o nosso belo sol, respire calma e ritmicamente. O que será que você vai ver? Verá a boca da caverna, a porta, a SAÍDA! Saberá que o sol, naquela posição pela metade, em semicírculo, aponta para a posição em que nós nos encontramos aqui no mundo, no recesso fundo da caverna, algemados e no escuro e que a saída é atravessarmos a porta do sol, rumo à LUZ, dentro de nós mesmos! Boa contemplação, amiga, mergulhe nessa Luminosidade, e muito grata pela reflexão que me proporcionou nesta manhã de hoje.

Maria Helena,
Florianópolis, 03/05/2007

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CONJUNÇÃO NA CASA 8


Publicando um texto escrito em 98, credo, século passado! Aí vai:


Depois de ler a Cartografia do Desejo estive refletindo sobre aquela conjunção Saturno - Netuno que temos em Libra, na Casa 8. E me veio que, Ulisses (Saturno) e Penélope (Netuno) ali estão, vivendo lado a lado, dentro de cada um de nós.

Ulisses, que cresce disciplinando-se para a individuação, tem anseios de liberdade, mas também medo do compromisso, medo da intimidade, medo de ser conhecido, julgado e abandonado, ou medo de ser consumido, por isso abandona primeiro, ou vive distante, na indiferença, numa pseudo independência, tentando acreditar que se basta. Seu lema é estar no controle. Ulisses mora na Ilha e tem muito medo de construir uma ponte para o Continente. A verdadeira Liberdade que, de alguma forma, ele pressente, nunca se estabelece por completo nesse exílio porque ele mantêm-se eternamente tenso, numa contínua atitude de defesa contra uma Penélope que ameaça constantemente possuí-lo. Penso na mãe desse Ulisses, que certamente o devorou! Por outro lado, constato em mim mesma o trabalho do meu pai porque, em verdade vos digo, nem só a mãe é voraz!

Penélope, por sua vez, tem medo da secura, da frieza, da impessoalidade e da distância de Saturno, porque o estado de separação lhe causa intensa dor. Em função de sua natureza líquida, manifesta uma inerente necessidade de fundir-se ao outro, transpersonalizando-se, achando que só junto pode tornar-se inteira. Penélope não pode entender a existência do limite entre um e o outro, pois que é vasocomunicante, e vive da contínua consciência do Ser do outro disseminado dentro de si. Acredita que só na dissolução das fronteiras vai encontrar a Liberdade. Sendo do elemento água (Netuno), ela, mutável, amolda-se, dilui-se e penetra a terra, lenta, mas seguramente, e muitas vezes rompe a dura resistência de Saturno, dissolvendo sua velha estrutura através da fantasia e do sonho.

Penso que todo mundo é um tanto assim, mas isso, em nós, particularmente, me parece assustadoramente claro, pois nem bem damos um passo em direção ao outro, fugimos para dentro de nossos limites, suspendendo a parede de vidro temperado e, embora possa parecer que estamos por perto, não estamos mais ali, estamos na Torre de Marfim, intocáveis! Passa um tempo e, tropeçando em nossa própria aridez, rígido isolamento, a necessidade de fusão outra vez toma conta, tomamos coragem e, novamente o famoso abraço pisciano entra em cena, sedutor. Novamente a consciência do olhar, da voz, do calor e da urgência do contato que pode alongar-se indefinidamente sem esforço. E a memória hipnótica de rituais de entrega... Saturno/Ulisses fica então apavorado com a proximidade do precipício, da íntima profundidade oceânica e dissolvente, não só do outro, mas do seu próprio lado Penélope!...O medo de perder a própria e frágil identidade idealizada, construída a duras penas, de perder-se no outro e ser por ele controlado... Então, por mais que Penélope esteja sempre à beira de um mergulho, mais uma vez respiramos fundo e racionalizamos a questão. Mil desculpas... Dá para escrever um tratado, mas quando me percebo nesse revezamento absurdo, eu me canso de mim mesma. Quando te percebo nesse revezamento absurdo, eu me canso de você. Talvez até te encontrar outra vez, queira Deus, em outra volta da espiral!

A conjunção está lá, nos mapas, na bendita Casa 8, mas é preciso re-significar muita coisa pois essa mandala está impressa dentro de nós mesmos! Um mapa não é uma condenação, mas aponta para um estado de coisas que precisa ser trabalhado. Onde está Saturno, uma vez que falte inteireza, existe a consciência da estrutura, do limite e da falta. Talvez, porque algo aí atue em excesso. A conjunção pede que se estabeleça um equilíbrio entre as partes. Talvez, fale de um esforço conjunto, feito do melhor que cada lado possa oferecer. Quem sabe peça de nós uma terceira via, algo diferente disso e daquilo, algo que não polarize tanto, onde talvez se crie uma estrutura para proteger o sonho. Não se pode e nem se deve suprimir Saturno, mas certamente, meu amigo, ao ignorarmos Netuno, nós perdemos o melhor da festa!

Maria Helena, Florianópolis, 15/05/1998

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Na saúde e na alegria...



Oi, querido, estive no sítio desde quinta, plantando bastante. Acabei voltando ontem com uma alergia nas mãos em função do calor desproporcionalmente forte, e da personalidade impaciente, que agravada pelo trânsito de marte na seis, travava suas lutas entre seguir até o final, tim tim por tim tim, não deixando para amanhã a semeadura que deveria ter sido feita anteontem, colocando na terra todas as novas, tenras e belas mudas de árvores, ou sentar-se à beira d’água, à sombra de uma figueira antiga para refrescar os miolos parcialmente cozidos, e descobrir/sentir a beleza de pequenos remansos, oásis por certo criados por gnomos e fadas, lugarezinhos perfeitos, acontecidos aqui e ali, deixando um pouco de lado todo aquele esterco de galinha. Muito trabalho, clima inóspito e essa mania de dar conta. Cheguei a Florianópolis e encontrei as caixas de entradas totalmente lotadas, então, tem que ser aos poucos. De qualquer forma, o fato de ter voltado a chover um pouco por aquelas paragens, depois de 15 dias sem uma gota sequer e a terra literalmente rachada, fez um bem enorme à vida verde e à alma.


Agora, respondendo aos dois importantes emails que você me enviou.


Pois é, meu querido, fiquei sabendo pelo telefone que você tinha ido embora! As coisas nestes tempos andam rápidas! Você bota a atenção numa direção e, vapt vupt, aquilo cresce e eclode!
Então, este é um momento de profundos mergulhos. Quando tudo estiver mais assentado, gostaria de reler seu mapa devagar, para um detalhamento, desvelamento maior. Ou você vem aqui, ou me convida e vou aí. Bom momento, inclusive, para rever um amigo nosso que tem uma pousada bem perto de onde você pensa construir sua casa.


Por ora, mantenha-se vitalizado. De novo, como uma criança, caminhe na praia, sinta-se abençoado, observe as belas características de sua alma, tão diferentes das belas características das almas das outras pessoas, e mergulhe nisso, em ser quem você é, na sua “loucura” particular, em mostrar-se em sua beleza, com simplicidade, naturalidade e harmonia. Silencie um pouco, meu amigo! Esta pode ser uma revolução e tanto! A revolução necessária! Não que não se possa ‘voltar para Casa’ na companhia de outras pessoas, mas temos que ter o cuidado de, ao viver com o outro, não nos desviarmos de nossa meta interior, que é a única meta que conta, embora a gente insista muito em comer o mingau pelas bordas, achando que sempre está quente além da medida! Então ficamos nas meias medidas. Sempre penso nisto com relação a mim mesma! Há pessoas, contatos, que propiciam uma caminhada rumo ao Centro, já com outras, isso pode ser bem mais difícil. Há relacionamentos que nos devolvem à nossa calma interior, à simplicidade do quintal dos fundos da Casa, onde não precisamos ficar eternamente fazendo sala para o outro, podemos descer do salto, sem maquiagens, deixando espaços para esse vazio, esse deserto, esse silêncio tão necessário! Mas há relacionamentos por demais densos, tensos, que se impõem como uma parede, como algo sobre o que temos que estar sempre alerta, onde as palavras não são lidas na fonte e por isso mesmo, por seu entendimento literal, estão sempre sujeitas às más interpretações, ao conflito. Há contatos tão solicitativos, tão carentes, tão absorventes, que nos exigem um cansativo paparicar além da conta, um não descanso na presença da alma do outro, mas respiramos com esforço e luta! Eis sua tarefa, separar uns de outros! E saber o que você convida, o que você permite e porque. Ama-se a todos, mas não se traz qualquer um para dentro da casa humana. No plano da Alma, as casas não têm paredes, o universo todo namora, comemora dentro da Grande Morada! Mas enquanto separamos aqui de lá, viver juntos em harmonia é tarefa para PHDs! Um "amor", nesta terra, não deve nos afastar daquilo que somos, nem ser uma meta em si mesma, a ponto de ficarmos cegos, girando em torno da pessoa, tratando de agradá-la, ou buscando uma pseudo-segurança, ou nos embebedarmos com sua presença, ópio erótico, fazendo da relação um fac-símile de Deus. Ver a Fonte no parceiro, caminhar juntos como uma forma de vibrar sinergicamente em direção à meta única, uma tabelinha bem sincronizada para se chegar ao sutil, mano a mano, olho no olho, como uma estratégia de manter o entusiasmo de servir, de crescer, do trabalho de espelho, de harmonia, de alegria, é muito bom, com certeza! Mas ficar às voltas com coisas que não fazem mais sentido para nossa consciência, isso é, sem dúvida, complicado. A paixão é a centelha que, ao virar fogo, deve subir para os céus, e não continuar indefinidamente queimando nos pólos mais baixos!


Mudar sua vida, torná-la de fato livre e não apenas rebelde, superficialmente desapegada, uma vida melhor e, conseqüentemente, tornar o mundo um lugar mais claro, criativo e significativo para se viver, não é apenas sua responsabilidade para com você mesmo, mas uma oportunidade de fazer sua vida valer alguma coisa, uma escolha de não seguir com a boiada, um privilégio de manter a luz-guia diante dos olhos e segui-la, uma bênção mesmo, num mundo de repetidores infelizes e paralisados, um presente para si e para aqueles que, ao vê-lo, possam com satisfação saber que é possível chegar lá, pois, cara, não é que ele foi mesmo! Querido, mergulhar no grande Mar Interior, Céu de nossa Alma e de lá irradiar inequivocamente Aquela Luz, nosso trecho, nossa fala, nossa parte no roteiro deste filme, isso é assumir nossa missão!


Envio-lhe, então, todo o Amor, toda a Paz, e os melhores votos de sábia visão. Saiba que vejo você, sua alma, em plena saúde e alegria, e agradeço pelo tanto que aprendo através de sua jornada.


Meu melhor abraço,
Junto,
Maria Helena


Florianópolis, 11:34 horas de 08 de novembro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

“... porque não sabem o que fazem.”



Recebi um e-mail em francês, com fotos detalhadas e sequenciadas, mostrando desde a compra de animais encarcerados em gaiolas minúsculas, a retirada do cativeiro, morte e manejo em locais imundos, até a venda do "produto" final ao consumidor . É um alerta sobre falta de higiene na preparação de “carcaças” de frangos para aqueles que se alimentam de carne. As fotos foram feitas na China, mas... Senhor! Como podemos viver assim? COMO PODEMOS VIVER ASSIM? Como podemos nos olhar no espelho e seguir vivendo desse modo? Da nossa ignorância, livrai-nos Senhor. Da nossa brutalidade, livrai-nos Senhor. Da nossa dureza, livrai-nos Senhor, porque sucumbimos sob pesado sono, hipnotizados, e nos acostumamos com barbárie de toda espécie e apenas voltamos os olhos para o outro lado! Um dia amorosamente despertaremos e veremos que tudo, incluindo as pequenas células, micro átomos, elétrons, nano-partículas, todos estão plenamente vivos, têm consciência de si e de seu papel no sistema. Tudo está vivo, é sensível e inteligente, e tudo fala, tem histórias para contar, experiências para compartilhar. A maneira como dispomos de outras vidas é insana. Veremos que ao considerarmos outros seres menos que nós mesmos, apenas nos diminuimos, assinando um atestado de profunda falta de atenção, de percepção, de amor e até mesmo de lógica! Nós é que ficamos aquém de onde podemos chegar! Se ainda não conseguimos manter nossa vida neste plano, jogar o jogo do planeta sem nos alimentarmos fisicamente de algum ser, quem sabe ao menos seremos gratos, cônscios de que para que uns fiquem de pé, algumas consciências se sacrificam.

Nós nos consideramos tão magníficos, não é mesmo? E somos! Só que não temos a menor idéia do que significa ser magnífico. Algo, em nós, sabe! Esse "algo", que é todo-consciente, vive tão absurdamente perto e ainda assim, rarissimamente entramos em contato com "ele". Quem sabe, só por hoje, olharei fundo nos belos olhos dos animais um pouco antes de querê-los fritos ou cozidos? E agradecerei pela graça de sua presença sobre a Terra! Mas a carne picada e congelada estrategicamente já não tem olhos, não é mesmo, meu irmão? É só um monte de corações atravessados por um espeto no churrasco do fim de semana! Quem sabe, só por hoje, reverenciarei o esplendor de uma bela alface crescendo ao sol e agradecerei por sua energia, beleza e força, pelo bem que ela me faz, ampliando minha sensibilidade, quando se incorpora ao meu corpo? E olharei para meus irmãos humanos, animais, vegetais, minerais, com amor e gratidão, sabendo que somos uma só existência vestindo fantasias diferentes, camuflados, e que mergulhados em um Substrato Único, aquilo que afeta um, afeta igualmente a todos, e todos estamos no mesmo barco, e como em uma equipe de trabalho, esporte, revezamento, cada um de nós assumiu uma tarefa, uma ponta nesse enorme empreendimento/holograma Terra e resolvemos botá-lo para funcionar. Sabendo que algum forte incidente de percurso enlouqueceu nosso discernimento e começamos a nos devorar uns aos outros sem noção, sem nenhuma noção, Senhor, de que eu sou o outro! Brutalizamos e desprezamos aquilo que formará nossa própria carne! Regateamos o preço, queremos um desconto nos pedaços de primeira, de segunda ou de terceira!

Só por hoje - e que eu possa dizer isto amanhã e depois de amanhã, e depois ainda - envio meu amor a este belo universo “onde vivemos e temos nosso Ser”, com um pedido para que eu possa acordar, Senhor. Que eu possa ver além dos disfarces, das formas diferentes da minha, sorrir para a alma oculta por outras cores, outras plumagens; que eu possa ouvir as vozes de todos os seres, compreender sua linguagem, receber seu trecho da grande mensagem e conversar mansamente com cada um; que eu possa, integrada, acariciar sem medo a Terra com minhas mãos nuas, e como as crianças, sentar-me à vontade no conforto deste chão, e receber em mim o sol, o vento e a chuva, reverenciando o tecido da vida no qual sou e estou.


Maria Helena, 25 de outubro de 2009

NO ÔLHO DO FURACÃO



A noite desceu em meio a um vento úmido que crescia. Entramos na casinha aquecida onde o fogo maduro era um coração vivo dentro do fogão à lenha. Estávamos molhados, enlameados, exaustos e perplexos pela lida do dia, pelo milagre da multiplicação dos peixes no lago, agora vazio, os peixes compartilhados, muitos passando a residir temporariamente no pequeno laguinho Krishna. Impossível, ali, era saber onde começava e onde terminava o espírito de nós, homens e mulheres deste planeta, e a substância do barro da Terra.
A água quente da serpentina que atravessa o fogão chegou ao chuveiro e caiu como uma bênção sobre nossos corpos calados. O dia havia se preenchido de tal intensidade, espesso como o barro que tudo ocupa, não deixando espaço algum para devaneios. Apenas o eu presente, decidindo, providenciando, em união, compaixão e gratidão profundas. Nunca víramos nada como aquilo antes, nenhum de nós, mas as crianças trocaram o susto e o cansaço pela alegria de trazer peixes tão grandes e tão belos para o abraço, no centro do peito, maravilhadas pela beleza daqueles seres, pela descoberta, pela coragem e pela vitória. O grande lago estava assoreado pelo excesso de chuva, suas paredes despencando, ameaçando romper a barragem, o que causaria um desastre e tanto. Foi preciso esvaziá-lo aos poucos. Das dez pequenas e belas carpas japonesas coloridas iniciais, compradas no Aquário do supermercado Angeloni e transportadas para o sítio em um saco plástico, encontramos centenas, milhares, de todos os tamanhos, ao lado de incontáveis carpas-capim! Quem se aventurava a entrar na água ficava com barro quase até a cintura, arrastando-se em câmera-lenta em um esforço limítrofe para vencer a prisão espessa do lodo e atravessar o lago de margem a margem, ajudando a recolher os peixes. Do lado de fora, o encaminhamento rápido para a preservação das vidas. E quando, por fim, a noite caindo, o último peixe resgatado, demos por concluída a tarefa, a tobata seguiu ligeira morro acima com sua carga preciosa, uma caixa d’água cheia de peixes vivos, preferivelmente para ocuparem um açude em outro sítio. Vitor levou alguns vizinhos na carroceria da camionete, também carregados de peixes, até suas casas. Lavei no tanque o macacão-com-botas-pantaneiro, o coração junto com os peixes, agradecida, em conversa silenciosa sobre os possíveis destinos que agora se lhes abriam, uma vez que não mais tínhamos condições de mantê-los todos ali, “só pra bonito”, como diz o povo da região, em função de mantermos animais lindos e saudáveis no sítio apenas pelo prazer de vê-los viver, pelo privilégio da convivência, uma vez que somos vegetarianos. Quando Vitor voltou era noite. Abri para ele a porteira, e a chuva já caía, e o vento frio se encorpava.
Tomamos uma refeição quente. Puxamos nossas cadeiras para bem perto do fogo. Junto, a cestinha com as linhas para crochê. O rosinha claro para o gradeado e o violetinha para ser passado, que nem fita, através do gradeado, formando um quadriculado rosa/violeta bem delicado. Direto da cozinha do sítio para cobrir a almofada do divã do consultório! O calor do fogo e o crochê preencheram minha alma com suavidade, enquanto do lado de fora a chuva e o vento, unidos, já chicoteavam os arredores. Vitor subiu para se deitar e a grande tempestade começou a cair.
Acomodei o crochê na cestinha, desliguei o laptop que tocava mantras com um leve sotaque chinês e reuni velas e fósforos sobre a mesa, caso fossem necessários. Apaguei as luzes para melhor acompanhar o espetáculo no céu. Como a casa tem janelas envidraçadas, literalmente, por todos os lados, deixei-me ficar como que em um certo epicentro, no meio da loucura dos raios, relâmpagos e trovões que recortavam o céu violeta-escuro. Os clarões se abriam em espinhas de peixes brilhantes e explodiam a torto e a direito numa furiosa manifestação de intenso poder. E o sopro de Deus varreu tudo em volta! E começou um barulho forte, cada vez mais forte no telhado, nas paredes de madeira da casa, nas janelas de vidro. Pedras de gelo enormes estavam despencando do céu, rasgando as folhas novas da confusa primavera, os pêssegos novos, os abacateiros transplantados, os canteiros de cheiros verdes, a gloriosa floração das pitangueiras e das limas da Pérsia! A casinha ficou plantada no meio do branco. Até que tudo foi serenando, a chuva intensa, média, depois suave e contínua seguiu noite adentro, permeando nosso sono ao lado da janela.
Sonhei que fazíamos esta travessia, Senhor, navegando numa casquinha de noz sobre as ondas revoltas de um imenso oceano, sob um céu negro varrido pela fúria dos ventos, dos raios e trovões. Mas Tu, Senhor, Tu eras a barca, e seguravas nossas mãos! Havia força, clareza e, sobretudo, paz. A mente vazia de pensamentos e o coração imenso. Tu eras a mente e eras o coração. E assim unidos, navegamos firmemente, sempre mais adiante, atravessando o abismo em direção a um novo Céu e uma nova Terra, guiados por Tua brilhante Estrela.
O dia, por fim, amanheceu.

Maria Helena,
São Pedro de Alcântara, 24 de outubro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

Esperando os Guanandis


Pois é, hoje é quinta, ao que parece foi aberta a temporada de tornados. Sopra esse vento no fundo cinza, chuvisca, o pico de calor cansou de louquear e voltou a fazer inverno. Parte de nós anda muito desabrigada. Não se tem a menor idéia do que será amanhã, mas isso tem um lado interessante! Tomo um amargo café preto recém-passado com cuecas-viradas crocantes. Um momento de paz em meio à instabilidade. Na terça-feira entrei no Mercado Livre e negociei 200 mudas de árvores. Não fomos para o sítio esperando amorosamente por elas que devem chegar a qualquer instante por Sedex, precisando de um golinho d’água. Corri lá fora e varri o quintal de tijolos molhados pela chuva, que a Grazi chegou apressada para atender no consultório, e criei para ela o palco necessário. Há sempre um cenário próprio para cada coisa, por isso nos anestesiamos tanto! Mas hoje eu não sou psicóloga! E cá estou, de volta ao meu laptop, traduzindo Seth, o cardíaco expandido, cheia de alegria, pensando em como a vida é pra lá de sem fim, deixando para trás um monte de bobagens, coisinhas, titiquinhas do cotidiano, reafirmando que adoro essas incríveis sessões de sincronicidade, que é o maior barato tudo chegar assim, às nossas mãos, ao nosso inteligente coração, pra gente desenferrujar as asas e passar a usar mais definitivamente o nosso lado interno. Emma Shapplin sopranamente canta na sala de espera do Consultório e temos esse clima grandioso de ópera se espalhando pela casa, permeando o açúcar da cueca-virada. Baixei alguns “throat singing”, “overtones” do youtube e tudo está bem no meu mundo. A ‘mama’, agora fora da UTI, recupera-se com alguma dose de sofrimento. Atualmente, em meio à agonia/euforia de um ciclo que precisa fechar, é preciso caçar sentido, cirurgicamente, com pinças! Já dizia Dóris Lessing em Shikasta, nossa história camuflada em ficção científica, que nos compenetramos tanto, planejamos vir, achamos que dessa vez íamos segurar a lucidez, mas ao entrarmos na atmosfera psíquica da Terra a coisa acaba sempre ficando preta, e nossos mais caros planos vão se nublando, a gente vai se confundindo, esquecendo de quem somos, a gente vai se atolando num visgo aderente, ilusório, que dói. A respiração alivia um pouco, vai limpando. Como lembrete, até fiz outro endereço de email para os contatos de Seth: respiramaria@hotmail.com! Então, amigo, não julgue, fique esperto, ame e, sobretudo, observe. Enquanto isso, tome outro golinho de café, pra “quentá” mais esse peito.
Uma buzina soa lá fora! Chegaram os Guanandis na caixinha, embrulhados em jornal! Vamos lá, equipe de emergência! Rápido! Mas com cuidado, carinho e presteza. Hora de ressuscitar os amigos! Balde! Água! Terra! Proteger logo as raízes nuas! Mais duzentos resistentes camaradas irão se unir a outras espécies amigas, recolonizando valentemente a antiga pastagem. Novamente engatinharemos morro acima, morro abaixo, plantando com as próprias mãos, até a hora do sol se por no horizonte. À noite, banheira quente para os músculos cansados – corpo tem dessas coisas - sopa generosa com tofu, os pés próximos ao fogão à lenha, uma taça de vinho, e Concert for George povoando nosso silêncio agradecido. A vida vai encontrando um sentido.
Beijo,
Junto,
Maria Helena, em 10/09/2009

domingo, 23 de agosto de 2009

AS REALIDADES


Pensamos que é objetivamente certo que estivemos lá, no mesmo tempo oficial do relógio/calendário. Mas me parece que na verdade cada um de nós viveu, vive certos ângulos da realidade, como se nossa referência-base fosse proveniente de sistemas sempre levemente diferentes uns dos outros, como se enquanto eu me encontrasse acordada você muitas vezes sonhasse, e vice-versa. Então, alternamos fases, recordamos de partes diferentes da estória. Eu me pergunto a partir de qual crença você me olha. Mas com medo de perder contato com esse chão seguro do consenso, sem um querer conscientemente ciente, nós ignoramos, fingimos não perceber as diferenças de nuances, de significados, como cada eu envereda, a todo minuto, por um mar infinito de probabilidades. Assim, viemos para cá com um acordo de concordar em certos trechos, separados por muitos hiatos, muitas vias paralelas que de tempos em tempos se unem por rótulas onde nossos veículos circulam, encontram-se, trocam de via ou seguem em frente. Assim, aquilo que eu vejo nunca é cem por cento aquilo que você percebe, mesmo quando juramos que o assunto é o mesmo, que temos a mesma filosofia de vida, mesmo quando enquadrados no mesmo espaço-tempo, mesmo quando, do ponto de vista dos sentidos, nossos corpos parecem tão completamente enlaçados... E todas as explicações que você dá para as curvas da sua trajetória me parecem tão absolutamente cativantes, coerentes, verdadeiras, lindas mesmo – você faz sentido – que eu me sentiria inteiramente feliz e agradecida, confortável e em casa, caso sua versão fosse a minha. Na insegurança dessa falta de quórum, concentro-me numa integridade que nos é comum, quando plugados no fluxo desse “mar” interior onde somos germinados, cultivados: me valho do Amor, digo “Senhor, em tuas mãos eu entrego meu espírito”, e rezo Aleluia! Penso que só o Amor de fato nos une e confere a essa loucura um tom de realidade.

Então venha, querido, sobe até esse patamar, e me dá sua alma de presente por um segundo, porque ela sabe, amado, ela sabe do Único Amor!

Escolhemos vir, viemos, cá estamos, e não há nada que tenhamos deixado para trás! Nada mesmo! Há, contudo, um desdobrar! Porque parte de nós sabe das coisas, mas parte ainda está procurando. Procuramos, chegamos lá, e de novo as coisas carecem de sentido, precisamos nos afinar em mais outro ponto, e o encontramos mais adiante: já estava lá, atrás de uma das cortinas. Como tudo o mais, atrás de uma das cortinas! E novamente é lindo, mas sempre tem mais, mais belo ainda, novinho em folha, que nós, precognitivamente, meio que sabíamos que estava lá. Não que isso fosse simplesmente predestinado, porque aí a brincadeira não teria Graça alguma! Não haveria expansão da criatividade. Nenhuma brincadeira de Eureka! Surprise! Há em nós algo que insiste em imaginar, se expandir e criar, recriar este universo em tantas outras versões, porque o Ser tem infinitas moradas. E assim nunca chegaremos totalmente “lá”, a não ser naqueles sagrados momentos de silêncio-mergulhado-na-Fonte, onde quase não se respira aqui neste mundo, mas certamente Algo respira em nós! Somos esse Deus que gosta de ser sempre novo, oceano profundo nunca antes navegado, e que se amplia mais, mais e mais. Você acha, querido, que fechou a gestalt, mas abriu outras tantas. Somos esse imenso reservatório, almoxarifado, oficina, ateliê, pleno de todas as ferramentas, materiais, matéria prima e dentro disso sensitivamente aspiramos ao encontro com Aquilo-Antigo-Inédito que nos compete revelar. Cada um de nós, em nossa pequena parte, cria em alto estilo seu grande mundo, como uma variante do mesmo tema universal. Mas não há dois caminhos iguais. Esta é a beleza que tememos. No entanto, essa solidão une. Precisamos de uma ponte: o Amor é o que transcodifica.

Mas, pare, respire, olhe nos meus olhos, querido, e fique lá. E, mágica, você se reconhecerá e você me amará, você se amará, você reconhecerá a Energia! Então me abrace forte, abasteça-se e siga. O Caminho é caminhar!

Maria Helena em 21/08/2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Observador à flor da pele


Pegamos a estrada para São Pedro de Alcântara. Inconscientemente coço a mão direita, tirando a pequena casquinha do que fora uma mordida de mosquito quase cicatrizada. Uma dorzinha leve conduz-me o olhar para a mão. Uma quase-gota de sangue meio misturada com linfa aflorou lentamente do pequeníssimo furo. Sabe-se lá porque, chamou-me a atenção aquele pequenino dodói e muito mais do que ele, a maneira como é tecida a nossa corporalidade. Imaginei os tecidos úmidos por baixo da pele, e senti uma antiga estranheza da densidade daquela mão. Na mesma hora lembrei-me de viagens profundas da 'mente', e daquilo que vivem certas pessoas em ‘surto’. Em sua compulsão, cavoucam para abrir melhor a ferida, adentrando a espessa crosta, capa confinatória, atravessando as diversas camadas em busca da certeza do que é isto onde estamos, o que é, em relação ao Eu, este corpo estranho. Tinha ali diante de mim uma mão natural muito viva, pele ressecada pelo frio, por teclar muito à noite e preguiça de cremes. Veias um pouco dilatadas. E a pequena abertura com uma ameaça de sangue. Mas além de mim mesma, Algo observa meu corpo, esse lugar-base onde habito, nesta experiência-existência localizada.

Do ponto de vista dos olhos físicos, olho de cima o cachecol laranja – presente da Iamara, o grosso casaco impermeável - uma ‘campera’ comprada em Buenos Aires, à caminho de Ushuaia, calças de veludo marrom desbotado e botas sete-léguas, enquanto seguimos para o sítio.

Quem sou eu, que olho para tudo isso, para esse corpo, essas roupas em volta de mim?

Paramos em um posto de combustíveis. Carros passam na estrada enquanto abastecemos a camionete e enchemos uma bambona de diesel, encomenda do Nuno para sua Tobata.

Continuo um pouco aqui, a Maria Helena dentro do carro, e um pouco como observadora destes veículos físicos. Compreendo intimamente meus irmãos, ditos ‘surtados’, por vezes internados em uma instituição. Penso que, de certa forma, estamos todos internados nesta Terra e neste corpo. A menina bipolar e seus parentes querendo falar por ela, já que ela ‘não fala coisa com coisa’. Mas, não, não quero as informações de teus parentes, querida. Quero as tuas percepções. Lembra? Tu és o capitão de teu próprio navio. Tu tens que ser, minha amada! Veja, estamos agora aqui nesta Terra, neste corpo. No começo é dureza... Mas vai passar! Vou soprar o dodói... Vai passar! Mas tu tens que te adaptar. Tens que assumir a mestria de estar em um veículo físico, estando neste mundo sem ser deste mundo. Vem cá, me abraça, me abraça forte, sente o meu corpo, o teu corpo. Fica nele, coração! Isso passa, lembra, ‘isso também passará’!

Penso em Laing, lá atrás, nos anos de faculdade, dizendo que o sábio e o louco nadam no mesmíssimo oceano e onde um flutua o outro afunda. Penso que há estados de fato limítrofes onde é melhor ficar esperta e nadar de braçada!

Paramos o carro no meio da estrada entre o centro de São Pedro e a entrada do caminho do sítio. Mais barreiras haviam descido por todo o percurso em função das últimas chuvas. Tudo parece meio no limite. Uma retro escavadeira tira terra de um lugar e coloca em outro. Aparentemente, um caos. Fico observando. Vejo que a retro escavadeira também tem a sua ‘mão’ e que ela é comandada pelo condutor da máquina. E aquele braço mecânico aparentemente tão grande, estabanado e destruidor, transforma-se diante do novo silêncio do meu olhar. Aquele homem conduzia aquela imensa, poderosa “mão” com tanta agilidade que ela executava tanto os movimentos mais grosseiros de arrancar e derrubar, quanto os mais suaves, eu diria, delicados. Em alguns momentos cavava lugares tão de mansinho, tirando só um pouquinho, chegando a alisar com doçura certas áreas com o dorso da “mão”, como a mãe construindo um castelo de areia com o filho pequeno na beira da praia, tirando um naco aqui, apertando um pouco ali, e depois arrematando tudo com pequenas batidinhas, deixando a área em volta bem lisinha e bonita. Havia ali um perfeito equilíbrio entre o bruto e o sutil.

Sim, entendo, vejo que é preciso vestir estes corpos físicos, aparentemente densos e desengonçados, assim como vestimos um collant flexível, como uma luva perfeita, do tamanho certo, bem adaptada à nossa mão. E conduzi-los na retirada dos entulhos das velhas crenças, abrindo nossos caminhos bloqueados, aparando os barrancos das crises, pois de certa forma, estamos trazendo o Espírito Imenso para uma sessão, daparentemente muito óbvia, de trabalho manual. E ainda assim, deslizá-los com arte e gentileza, a mão leve, cuidadosa, que embala o berço na noite, acolhendo o filho; a mão que anota, traduz a visão do sonho, a certeza de outros universos, implementando-os no mundo dos homens .

Há que se enviar uma porção desses corpos para baixo, com muita determinação, para que uma espécie de raiz penetre fundo, chegue ao centro da terra a lá fique aterrada, como uma âncora. E é preciso expandi-los para cima e para os lados, como uma cruz, que bem fixa na Terra, tem a cabeça nos céus e braços abertos sem medo de abraçar o mundo!

Adapta-te! Ajusta-te! Não com um embotamento imbecil, como se não soubesses de todo o resto! Mas com sábia alegria desapegada de quem já viu e ainda verá passar muita água por debaixo da ponte. Aprende a ir e a voltar. Atravessa os mundos, explora o espaço entre eles, mas mantém-te atento, consciente, lúcido. Nós podemos qualquer coisa e este corpo não passa de uma ferramenta especializada. Use-a. Aceita este corpo e ele servirá como uma caixa de passagem, transformando, transcodificando, levando a energia até onde ela precisa e pode chegar.

A Luz do Centro tem como atravessar todos os tipos de poros. Lembra, cada átomo tem também o seu Centro que, ativado, replica a Luz conduzida e expande-a ainda mais. Respira, querida. Tu és um elo, tu és uma versão e tu és também a Fonte, neste corpo.

(Grata, Eu que me habita e que me assume, quando eu recuo, relaxo e assisto-escuto. Creio que anotei tudo, ou pelo menos a maior parte do que me veio agora, enquanto a camionete segue para São Pedro de Alcântara.)

Que SOU EU, em meio a esse conclave? Quem és TU que olhas através dos meus olhos iluminando velhos sistemas configurados? Quem és Tu, Coisa linda?! Quero ficar Contigo e Te conhecer.

Maria Helena Ferraz

A caminho de São Pedro de Alcântara, manhã de 05 de junho de 2009.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

PENSANDO...


Hoje dei uma passadinha rápida no supermercado e o olhar arregalado da moça do caixa para a minha tosse seca habitual, trouxe-me de novo ao tema central dos dias de hoje: O VÍRUS! Me ocorreram ao longo do dia vários pensamentos que resolvi organizar aqui e dividir com vocês. Caso tenham paciência de ler até o final.

Penso que esses anos que vem por aí trazem um desafio louquíssimo para o ser humano tridimensional: A implantação proposital deste último vírus e a paranóia disseminada que, diga-se de passagem, é o que garante o êxito do lucro com essa experiência, foi uma estratégia tão acertada do ponto de vista daqueles que o desenvolveram, que daqui por diante será um Deus nos acuda, porque sabe-se lá o que poderá ser liberado pelas ruas, já que a população graciosamente entrega seu poder, hipnotizada, submissa e amedrontada, dando o Ok para essa “campanha” inusitada, inclusive considerando-se pessoas cultas e informadas. A propaganda e a “Ciência” ocuparam o lugar do discernimento próprio. Então, a partir de agora, com essa boa receptividade mundial, usando um economês fajuto, digamos que há mercado para novas doenças-em-parte-reais-em-parte-fantasmas!

Sábado à noite fomos à colação de grau da minha norinha Paula, no Clube XII. O ar condicionado foi ligado ao extremo, de modo que soprava um vento frio tão forte que chegava a movimentar meus cabelos. Sabem como é, ambiente fechado, um monte de gente e vírus é mistura que não dá boa coisa, então, o ar tem que circular. As mãos já devidamente lambuzadas de álcool-gel logo na entrada: a bela e sorridente recepcionista “politicamente correta” garantiu que todos ficassem “protegidos” e recebessem um papel com as instruções de contágio, sabem como é, nosso cérebro decora rápido e faz tudo direitinho depois. Não pude deixar de pensar em como sobrevivemos até hoje às gripes anteriores, posto que não dizem, mas agem como se fôssemos seres indefesos, vazados, permeáveis, campo fértil para o desenvolvimento de todo tipo de “bichos” invasores, sobre os quais naturalmente perderemos o controle, e seremos tomados, infestados, pesteados, e finalmente morreremos assim, sem mais nem menos, de uma hora para outra, nós que borramos de medo de morrer, mesmo com aquela capa bonita de espiritualistas, reincarnacionistas e uscambáu a quatro! E depois, com aquele clima antártico dentro do clube, quem sabe não estaríamos sujeitos aos males “menores”, como uma gripe comum mesmo, cuja taxa de mortalidade é considerada bem maior, ou a um belo torcicolo, em função do “vento perverso” entrando de revesgueio em nossos pescoços, vampirizando nossos corpos encolhidos!

Nós criamos nossa realidade, individual e grupalmente. Senhor, o que estamos criando?!

Como criamos nossa realidade? Através do tipo de pensamento que predomina em nossa cabeça no rame rame do dia a dia. Não é aquela coisinha maravilhosa e cor de rosa que sonhamos um dia ser, que até sabemos que precisamos desenvolver e que acabamos colocando de fachada pra inglês ver. É aquilo que está lá, no segredo de nossas cabeças, remoendo para frente e para trás. Como diz aquele carinha, pensamentos materializam-se, escolha os melhores! Esses pensamentos mais comuns e mais persistentes quando embalados por emoções fortes, sofrem um impulso, ficam poderosos, chamam outros pensamentos semelhantes, começamos a nos lembrar de vários outros episódios similares, as coisas vão se aglutinando umas às outras, umas vão justificando, reafirmando, validando as outras, até se transformarem em sólidas crenças. A emoção mais especial de todas para criar crenças negativas poderosas e duradouras é o MEDO! Faça o fulaninho ter medo e ele estará de joelhos, na tua mão! Basta olhar em torno e o que vemos hoje, agora, é a vibração do medo se espalhando.

Mas por que chegamos a esse ponto de ter tanto medo assim? Porque quando concordamos em vir para a Terra fazer esta experiência que, entre tantas outras coisas “também” é física, concordamos que haveria em nós uma entidade de nome “ego” que serviria de intermediária nas lidas com o plano físico, tipo um administrador do condomínio. O ego permite que a gente se torne um eu separado, diferente do nosso vizinho. Nossa entidade total corresponde a todo esse condomínio que o ego visa administrar, o próprio ego em si, e mais áreas e benfeitorias adjacentes que escapam a vista à olho nú. Esse conjunto tem um núcleo central, agregador, que mantém e emite a energia necessária para que o condomínio tenha êxito. Esse núcleo é uma espécie de coração, uma fonte cuja natureza é feita de uma mistura de PODER, AMOR, SABEDORIA e CRIATIVIDADE, que conhece o script que cada um de nós como personagem vai desenvolver e ao mesmo tempo conhece a SI MESMA. Esse núcleo central é o chamado Eu Superior. Ego, é o nome do síndico, do “cara” que cuida de negociar as coisas no tempo e no espaço, de preferência orientado pelo Eu Superior. Mas o ego, com o tempo, foi se adonando do pedaço. Alguém disse que é como se o dono da casa tivesse feito uma viagem muito longa e o mordomo começou a se acostumar a dar as ordens, virou um feitor de escravos, comandando a torto e a direito a criadagem! Meteu-se até a cabeça na tridimensionalidade e agora sente o maior arrepio ao pensar que possa haver algo mais abrangente do que ele, “lá dentro”. Tem medo de perder o comando, de ser absorvido ou dissolvido no Eu Maior. Tem medo e compete com os vizinhos dos quais se diferenciou, tentando manter-se no controle. Claro, o Ego é inteligente! Com “o tempo” ele se dá conta, torna-se consciente de outros conteúdos e entrega os pontos, mas bota tempo nisso! Acontece que, enquanto isso, quando nos mantemos longe dessa fonte, desse gerador, desse núcleo, longe de Deus, Alma, Espírito, O Criador - o nome que você achar mais simpático - não temos poder algum, não temos visão, vivemos daquilo que o cérebro acumulou, classificou como experiência e de algumas associações lógicas feitas a partir daí, um monte de crendices sem pé nem cabeça, sujeitas, em sua grande maioria, à moda da época, por falta de referenciais maiores. Fazemos um monte de afirmações sobre A VERDADE na busca de segurança e de alguma sanidade, e nem nos damos conta que estamos apenas falando de uma mera versão da realidade que hoje conseguimos enxergar, e que, na verdade, poderemos vir a descartar daqui a pouco, como já fizemos com quase tudo que já nos foi caro!

Sem contato com A FONTE, temos a maior sensação de fragilidade quando as coisas apertam! Como fantoches esquecidos num canto, precisamos DAQUELAS MÃOS que nos imprimem sentido, graça, energia, e movimento. E facilmente entregamos nosso poder a outro tipo de mãos, manipuladoras, na falta das originais. Então, vem a estória do vírus. É um tal de rezar e pedir socorro pra Deus, pra algo poderoso que vive 'lá fora', e que nós já nem sabemos se ouvirá, se virá! E como pressentimos a desconexão, revivemos histórias de pecado e culpa: fizemos novamente algo errado e não somos de certo merecedores. Queremos algo que nos salve! Mas o louco nisso tudo é que nós já nascemos salvos! Nós não somos seres humanos que também, por acaso, têm um Deus lá no fundo, escondido em algum subterrâneo complicado. Somos Deus, Fonte, Eu superior, o nome que você quiser, por favor, que está vestindo esse corpo neste momento, corpo, aliás, que em essência é incorruptível, “fabricado” pelo próprio “dono” com a mais perfeita mestria, sem qualquer defeito ou engano, feito da mesma substância, mesmo material de que ELE próprio é constituído. Nisso reside nossa inviolabilidade!

Nisso reside nossa inviolabilidade, na silenciosa união com a Fonte. Através dessa união, compartilhamos a mesma visão, o mesmo conhecimento, a mesma sabedoria, o mesmo poder, a mesma criatividade, o mesmo amor desse EU PROFUNDO. Nós até gostamos do slogan, dizemos bem na ponta da língua que 'Deus e eu somos Um'. Só que, na prática, temos nos identificado com o ego, tomamos o síndico como amante, nos dissociamos da Fonte, nos tornamos lineares e práticos, cheios de regrinhas absurdas de certos e errados, pecados, raiva, culpa e medo. Muito metidos à besta, falamos direto abobrinhas, julgamos tudo e todos , acreditamos na ciência acima de tudo (eu falei ciência com letra minúscula) e entregamos às 'autoridades' nosso poder, pois já não mantemos contato com a autoridade em nós mesmos. Se vivenciássemos por um segundo a União com Aquilo Que Nos Anima e segurássemos o estado alcançado, se tocássemos e sustentássemos essa energia por algum 'tempo', estaríamos blindados, invioláveis, sintonizados em uma freqüência que por ressonância não teria como albergar disparates dessa categoria! Mas, estamos fazendo essa experiência cega, não é mesmo?

É uma experiência cega. Vou parar de usar um pouco a palavra Deus senão vão me chamar de carola! Vou falar de neurociência, porque daí, dou um “time” (tempo, em inglês, viu gente?!), dou uma volta, mas não tem importância, não perco o fio, e acabo até ficando mais chique. Por falar nisso, vale lembrar que os tomógrafos hoje já registram um ponto no cérebro que se acende quando experimentamos estados meditativos de devoção, contemplação e fé, não importando se o “objeto” daquela devoção é Buda, Jesus, Krishna, Santa Terezinha, o EU, a Fonte, a Alma, Alá, Yaveh, enfim, só importa o estado de conexão.

Em estudos atuais, cientistas chegaram à conclusão que o Hipocampo, região do cérebro que parece ser da maior importância para a memória, parece também estar associado com a imaginação. Para criar uma antecipação do futuro, o imaginador rememora fatos semelhantes vivenciados por ele no passado, relatos de amigos, parentes, livros, filmes, busca a tonalidade emocional mais adequada e, a partir de alguns fatos, novos dados oferecidos e partes dessas lembranças, antecipa a criação de uma situação futura. Nesse momento, observando-se com tomógrafo, o hipocampo parece se comportar de forma muito semelhante quando se trata meramente de relembrar um fato acontecido, e quando estamos criando, imaginando, antecipando de uma situação futura. A imaginação, à princípio, parte sempre da memória de alguns dados reconhecíveis, familiares, em cima dos quais se acrescenta, se desenvolve, se constrói outros encaminhamentos recheados de emoções.

No caso dessa gripe, todos os meios de comunicação tem divulgado sistematicamente informações vagas de sintomas que todas as pessoas encarnadas podem associar a algo que elas já experienciaram em seu passado ou no passado de familiares e amigos. As notícias são contraditórias, tipo, a gripe apresenta baixa mortalidade, a população deve se manter tranqüila, mas todos devem se desinfetar várias vezes ao dia, sempre após tocar em corrimãos e maçanetas de portas, as escolas fecham as portas, bares, restaurantes, igrejas e todos os locais fechados onde pessoas são reunidas passam a ser controlados por autoridades sanitárias. Pessoas usam máscaras em aeroportos e ambulatórios, todos os meios de comunicação fazem boletins sobre a contagem dos infectados e mortos em cada estado do país, em todos os países. Nada foi divulgado desta forma, antes, sobre quaisquer doenças que costumeira e comprovadamente matam aos montes em toda parte e nunca se tomou esse tipo de providências radicais. Os sintomas são confusos, diagnósticos demorados e os chamados grupos de risco, cambiantes. As mulheres grávidas passam a ser consideradas grupo de risco e os escritórios preferem que elas não compareçam ao trabalho e se mantenham em casa para evitar o contágio, e possível morte da mãe e do feto. Toda mulher grávida que por ventura morre tem o corpo avaliado para descobrirem se a morte foi causada pelo vírus. As mulheres estão todas estarrecidas, inclusive muitos profissionais da saúde também, pois os meios de comunicação passam a divulgar que mulheres grávidas tem sistema imunológico extremamente frágil, quando sempre se soube que a gravidez é um momento de grande vitalidade e proteção, pois da manutenção da gravidez depende a continuidade da espécie, e se as fêmeas fossem assim tão suscetíveis como agora se passa a afirmar, a humanidade seria dizimada com muita facilidade, coisa que o excesso populacional atual contraria, inclusive em países 'avaliados' como miseráveis.

Dizíamos que os sintomas da gripe divulgados são todos extremamente comuns, aplicando-se a inúmeras formas de doenças e mal estares amplamente conhecidos de todos. Assim sendo, em função da propaganda, quando uma pessoa começa a sentir algo semelhante, incitado pelo medo do desconhecido, medo esse magistralmente manipulado pelos meios de comunicação que insistem em afirmar que, ao menor sintoma, as pessoas devem correr e buscar ajuda imediata, embora vejam, essa gripe seja de baixíssima mortalidade, seu cérebro começa a estabelecer relação entre esses dados com estados já vivenciados anteriormente, tece o ambiente desvitalizado da falta, os fios necessários para o estabelecimento da doença, antecipando o futuro, na verdade forjando-o ao imaginar o pior. Sabe-se, quando se estuda psicoimunologia, que estados de paranóia, medo e pânico não favorecem a uma boa saúde imunológica. A positividade e a confiança aliadas a práticas simples e saudáveis mantém o indivíduo mais apto a lidar com possíveis epidemias.

Vejam, nossa inviolabilidade está associada a uma freqüência vibratória que tem como característica visível a paz, a tranquilidade, a confiança positiva, a alegria de estarmos vivos nesta linda Terra. Nada nos persegue, somos todos irmãos. A vida materializada é toda proveniente de uma mesma fonte criadora, imaculada e sã. Esse estado de espírito é conseguido através do contato com nosso centro, nossa alma, nossa fonte de vitalidade e poder. Não estamos separados desse núcleo, precisamos de fato reassumir essa ligação. Quando isso se dá, quando mantemos um foco estável nesse centro consciente e somos por ele permeados, o tipo de pensamentos/sentimentos predominantes em nossas cabeças, em nosso “campo”, é construtivo, afirmativo, amoroso, saudável e inclusivo. A vida plasmada a partir de tais pensamentos/sentimentos tem natureza semelhante aos pensamentos/sentimentos que lhe deram origem.

Quando tomamos consciência de que esse vírus foi introduzido de maneira duvidosa, visando lucro, inclusive cujo medicamento único proposto e comprado avidamente pelos governos de todas as nações está associado a uma figura política também igualmente duvidosa, temos tendência a reagir contra o uso desse medicamento “oficial”. Então passamos a usar a internet divulgando vídeos de médicos de várias nacionalidades delatando os conluios e sincronicidades sinistras, divulgamos na rede remédios caseiros, homeopáticos, fitoterápicos, ortomoleculares, psicológicos, espirituais, enfim, continuamos a vibrar o assunto gripe, mantendo o foco na doença e não na saúde, criando ainda mais movimento pró-vírus dentro de nós mesmos e em nossos grupos. Continua a predominar em nós o mesmo pensamento/sentimento de que temos que nos defender do inimigo maléfico, de que somos frágeis, infectáveis, de que estamos, enfim, desconectados da FONTE. Só que agora o medo está travestido, escondido por trás de rótulos que apreciamos, tais como, homeopático, fitoterápico, orgânico, saudável, ecológico, caseiro, receita da vovó... Não saímos do mesmo ponto, percebem? O medo continua lá! E portanto, continuamos a criar mais situações amedrontadoras das quais teremos que nos proteger com tamiflus da vida ou alternativos/complementares! Nós criamos em nossas vidas o que predomina em nosso campo. Se predomina a crença em nossa desproteção e fragilidade, nos sentiremos cada vez mais contamináveis e estaremos sujeitos à tudo.

Estou aqui nesta Terra, nesta experiência, que nem vocês. Tenho tentado me observar e observar o meio. Pensei que seria positivo compartilhar esses pensamentos e quem sabe vamos desmanchando esse muro que nos separa de nós mesmos, de nosso Real Ser.

Beijo,
Maria Helena